A quarta edição do festival Laneway em Singapura, como a grande maioria de festivais de música, trouxe uma população jovem sedenta de boa musica Indie, numa mistura de nacionalidades típica desta metrópole internacional situada no centro do Sudoeste asiático.
As portas abriram pelas 11 horas da manhã, e lentamente os vários espaços com relva foram invadidos por toalhas coloridas, vários hipsters e a habitual concorrência por bebidas e comida.
Com dois palcos principais lado a lado e um palco secundário bem escondido, as honras abriram com Vance Joy num dos palcos principais. Concerto discreto e digno de uma tarde de sol sem grande historia.
A referir que a organização, bem como o staff do festival estiveram sempre quase perfeitos, com um profissionalismo ao nível de um festival de renome. Único detalhe, e este vai com um selo pessoal, foi a escolha do alinhamento. Pareceu-me que faltou alguma lógica no seguimento dos concertos e isso acabou por ser determinante na minha análise final da parte musical, mas passemos ao segundo concerto do dia.
Youth Lagoon. A minha curiosidade desfez-se assim que me sentei na relva, já de gin tónico na mão, para perceber o que já esperava, a qualidade deste menino não engana. Tenho um grande apreço por Trevor Powers e foi com grande surpresa que aceitei ver uma banda com tanta qualidade ser puxada para o início do festival. Pena que estivesse com tão pouco público, e pena também que eu próprio perdi a vontade de estar de frente para o palco. Conclusão, erro de julgamento no alinhamento, grande futuro para esta banda.
Depois de mais um par de gins tónicos, e de um sorriso trocado com Hayley no backstage, The Jezabels entraram em palco. E mais uma vez, que faz uma banda com tanta energia a tocar às 2.30pm? Não faço ideia, mas alguém saberá. Excelente concerto, grande carisma, e que voz tem esta menina. Uma hora de muita qualidade.
Às 3.30pm surgiu a primeira de algumas escolhas entre palcos, no palco principal estava Unknown Mortal Orchestra e no palco secundário estava Vandetta. Confesso que não conhecia Vandetta portanto escolhi UMO, agora que penso talvez tenha cometido um erro. Não me convenceram. Concerto muito arrastado, qualidade de som muito fraca, e pouca vontade de interacção com um público que por esta hora já estava mais participativo.
Passemos ao primeiro grande momento do dia, Kurt Vile. Primeiro, um aparte, antes de subir ao palco Kurt de forma bastante simpática agradeceu o meu aperto de mão e pequeno encorajamento: ‘Good luck for the gig man’, ‘thanks brother’ foi a sua resposta. Obrigado por estes 5 segundos.
Vou ter de ser honesto, custa-me dizer isto, mas fiquei desiludido com o concerto. As expectativas eram altas, Wakin On a Pretty Daze é sem qualquer tipo de dúvidas um grande álbum, mas Kurt falhou na forma como comunicou a sua música. Faltou qualquer coisa, muita coisa, e só com gins tónicos consegui realmente sobreviver todo o concerto. Primeira desilusão.
Seguiu-se outra decisão, no palco principal Frightened Rabbit, no secundário Gema. Mais uma vez fui pela banda que conheci e desta vez não me arrependi. O concerto de Frightened Rabbit começou sem grande magia mas acabou em êxtase, com os escoceses literalmente a partir a loiça toda. Assim sem mais nem menos. Grande grande concerto.
Mais tarde acabei na tenda VIP em amena cavaqueira com um dos guitarristas (não me perguntem o nome) onde lhe disse o contrário e até agora não percebo exactamente porquê, mas isso é outra história.
Passemos a próxima escolha. The Observatory, a banda mais popular de Singapura, vs. Mount Kimbie. A esta hora o gin começou realmente a fazer efeito, e mais por conforto fiquei pelo palco principal, e The Observatory foi o que acabei por ‘ver’. Sem história, mais uma má escolha de casting. Faltou muita coisa a estes simpáticos jovens. Simplesmente não funcionou para mim.
Eram agora 7 da tarde e vem mais um grande nome, Savages. Mais uma desilusão. Parece que tudo foi mau, mas acho que é mais o meu espírito crítico a falar. Todos sabemos que uma banda em estúdio é bastante diferente do que em palco, mas as vezes tenho a sensação de estar a ouvir outra banda, e isso simplesmente não é aceitável. Savages não foi o que eu ouvi em Silence Yourself.
Relógio bate 8 horas da noite e vem Daughter ao palco principal. Sou fã de Elena, e irei morrer fã dela. A voz de Elena, ao vivo, em estúdio, onde seja é simplesmente mágica. Pode não ser música de festival, e eles não conseguiram nunca ter uma relação próxima com o público, mas é tudo tão perfeito que assusta. Talvez tivesse funcionado melhor às 4 da tarde, não sei, mas para mim foi bom, de forma meio egoísta.
Perto das 9 horas tive o primeiro (e único) grande dilema do dia. Haim ou Jamie XX? Ainda não tinha posto um pé no palco secundário e pensei cá para mim, é agora ou nunca Diogo! E foi com muito custo que ouvi 2 músicas de Haim e encaminhei-me para perto do Jamie. Que óptima decisão. Jamie XX foi de longe o melhor concerto do festival. Não tenho palavras para a energia, a forçaa de Jamie. Tudo bom demais para ser verdade. Grande grande concerto, exactamente o que eu estava a precisar para acordar e ganhar energia para os últimos dois concertos, Chvrches e James Blake.
Comecemos por Chvrches. Sim, não é nenhum segredo que penso todos os dias em casar com Lauren Mayberry, e vê-la assim de perto foi no mínimo uma experiência do caraças, mas mais uma vez esperava mais. O som não estava perfeito (não inteiramente por culpa deles), e faltou energia, faltou emoção a tudo o que fizeram. Trouxeram a lição bem estudada, fizeram a horinha que lhes pede um festival, e saíram sem eu sequer me lembrar de o que se passou. Não sei se foi do gin tónico, mas fiquei mesmo desapontado, ate porque adoro The Bones of What You Believe. Alias, fui até menino para escrever a crítica no nosso maravilhoso site.
O dia acabou com James Blake. A música deste homem é somente perfeita. E passou o teste do concerto. Fantástico. Não o colocaria como headline, nem tão tarde no dia, mas não falha. Cantei com ele, ri com ele e o dia acabou realmente em beleza.
Para o ano há mais, e Laneway ganhou um fã. Aconselho a experiência a todos. Singapura merece um festival assim.