Linda Martini, Luís Severo e Golden Slumbers foram os protagonistas de uma bonita festa da música portuguesa.
O fim das férias de Verão deveria ser sempre um momento de triste pesar. Achamos por isso lamentável que a Universidade Nova celebre todos os anos a tragédia, ainda para mais com excelente música portuguesa. Falamos do Nova Música, cuja sexta edição aconteceu no passado sábado no campus de Campolide. Contemos a história do crime.
O enredo começou para nós com os miúdos Cruzes Canhoto. Percebemos que não foi por acaso que venceram o III Concurso de Bandas Nova Música. As suas viagens instrumentais, cruzando um pós-rock melódico com um virtuosismo hard rock, mais que provaram a justeza do título.
Os Polegar mantiveram a fasquia alta com a sua pop retro e soalheira. Com o seu doo-wop ao estilo “Dunas”, sentimo-nos transportados para o paraíso de cartolina duma praia dos fifties. Se o seu hiper-romantismo tem açúcar em abundância, as guitarras indie são bem ácidas- o fel sabiamente cortando o mel.
Acabados os deliciosos aperitivos, o primeiro prato principal foi servido: o grande Luís Severo. Luís apresentou-se sozinho à viola (e nas teclas), num registo cúmplice e intimista. As canções, quando são sólidas e memoráveis como as de Severo, bastam-se a si mesmas, sobrevivendo aos arranjos mais austeros. O seu bonito concerto provou-nos o que já há uns tempos intuíamos: Luís não é só o melhor discípulo de B Fachada; ultrapassou já o seu mestre.
Qual faustoso banquete, o segundo prato chegou: as ternas Golden Slumbers. Também as irmãs Falcão dispensaram banda, para nos sussurrarem ao ouvido os seus segredos. Parecia que estávamos no quarto das manas, trincando a delícia da sua folk: pura como a água da nascente, doce como trigo com mel.
O peso-pesado ficou naturalmente para o fim: a instituição Linda Martini, bandeira do rock alternativo cantado em português. Num alinhamento pejado de clássicos, degustámos o habitual menu a dois tempos: subtileza pós-rock nos momentos de acalmia; intensidade hardcore nos momentos de explosão. Foi bonito ver os fãs a cantar em uníssono os hinos da banda, felizes e comovidos.
Voltámos para casa, já noite fria, a sentirmo-nos mais vivos do que nunca. Como a música portuguesa, ao que parece.
Fotografia: Inês Silva