Sexta-feira, 13 de abril, foi o dia escolhido pelos PAUS para apresentar o álbum Madeira no Teatro Capitólio. Sem medos de maus presságios, afundaram-nos no tão característico rock eletrónico avant-garde.
Passavam poucos minutos das 22 horas quando quatro silhuetas surgem em palco acercando-se das suas extensões: Makoto Yagyu no baixo, Hélio Morais e Quim Albergaria na bateria siamesa, e Fábio Jevelim nas teclas.
Diretos ao assunto, sem nuances nervosas: “Pela Boca”. Foi esta a música resgatada do álbum Mitra e escolhida para iniciar aquele que viria a ser o mergulho no temperamento tropical e carregado de acidez. Seguiu-se “Mo People”, também esta pertencente ao álbum de 2016, que provocou as primeiras inquietações nos corpos dos presentes na sala.
A espera pelo rasgo insular terminava quando soaram os primeiros acordes de “Blusão de Ganza”, anunciada por Quim Albergaria enquanto “tática de sobrevivência ou mesmo fashion statement” quem sabe… A verdade é que o primeiro tema do álbum é uma explosão com conta peso e medida, uma certa calmaria, se é que isso pertence ao glossário dos PAUS, de qualquer forma a segunda parte desta música é um reprise que reflete a explosão de um je ne sais quoi cósmico.
Qual alinhamento do disco, num pára-arranca, vai e vem, lá veio “L123”. O passe que inclui até a travessia entre a perceção das manifestações de identidade e cultura, e o ilhéu onde habita a dita maria vai com as outras.
O isolamento insular continuava com “Sebo na Estrada”, banhado em acidez, com um baixo que nos permitiu emergir para respirar, voltando a mergulhar de forma a apanhar logo “970 Espadas”, e, sem precisar de baixar a guarda, a coisa entrou mesmo pelos ouvidos. É difícil continuar de pé pregado ao chão com um tropicalismo tão embebido em poncha quanto este. Em pano de fundo passavam imagens capturadas durante a residência na Madeira, residência essa que foi o grande impulso para que o álbum evoluísse para videodisco.
“Faca Cega” afiava-se para se hastear a “Bandeira Branca”, que antecedia aquela que seria até então a música com mais adesão por parte do público: a metamorfose que é a quimérica “Mutante”. Para finalizar a primeira parte do concerto tocaram “Pelo Pulso”, do EP de lançamento da banda, que fez ferver até os mais desatentos. Ninguém resiste a nostalgias, é um dado adquirido.
Saíam de palco com uma grande ovação que só deixava adivinhar um regresso de mais mestria. Voltam a tomar as suas posições, e antes que a máquina sonora se apoderasse novamente de tudo o que era poro, fizeram questão de introduzir a próxima música enquanto uma ode ao amor, uma música para todas as pessoas que deixam o amor guiar o caminho, influência da aprovação da nova lei da identidade de género. Era “Madeira”, o tema homónimo do disco, que se entoava e declarava o quanto uma ilha basta. Seja ela de que tipo for. Seguiu-se “Tronco Nu” do álbum PAUS que simulava o fim de uma noite com uma energia tão particular quanto boa.
O bailinho não se ficava por ali e no último encore tivemos direito a “Deixa-me Ser”, “Primeira”, “Era Matá-lo” e “Mudo & Surdo”.
“Olhar de Rojo” era a excluída da apresentação do novo álbum, mas não foi isso que alterou a apurada e sólida performance dos Paus.
No fim, todos voltámos à superfície e, ainda que não tenha sido o concerto mais efusivo da banda, foi o suficiente para daqui por uns anos ouvirmos: “E aquela noite de Paus no Capitólio? Demais!”.
Fotografia: Inês Silva