Os Marquise surgiram em 2022 e rapidamente se tornaram um nome incontornável na cena musical portuense. Lançam agora o seu primeiro LP, Ela Caiu, pela Saliva Diva, e o Altamont teve o privilégio de o ouvir em primeira mão.
Cheguei cedo aos Marquise, mas não tão cedo que conseguisse ser o Júlio Isidro da banda, como gostaria. Desde então, o grupo formado por Mafalda Rodrigues (voz), Miguel Azevedo (baixo), Miguel Pereira (guitarra) e Matias Ferreira (bateria) cresceu, somando ao currículo uma atuação na Casa da Música, em março do ano passado.
Desde o lançamento do EP Marquise, a banda tem percorrido o país, compondo novas canções que agora ganham vida neste primeiro LP. Ela Caiu mantém a essência dos Marquise, mas revela um amadurecimento notório. Deixam de ser apenas “the next big thing” para se afirmarem como uma banda sólida e incontornável.
As guitarras e a bateria, intensas e quase claustrofóbicas, continuam a evocar os anos 80 e 90, enquanto a voz de Mafalda paira como um nevoeiro sobre paisagens escuras – ou pelo menos é esse o cenário que me ocorre.
Na press release de Fauno, um dos singles de avanço, o músico e compositor Daniel Catarino descreve a música da banda como um cruzamento entre mitologia, literatura portuguesa, new wave, dream pop e rock alternativo, mencionando várias referências que os Marquise evocam. No entanto, a banda que Ela Caiu mais me faz lembrar não é referida: The Cure, sobretudo em faixas como “Passado” e “Não Quero Ser”. Ainda assim, há momentos mais luminosos, como “Ofélia”, e até um tema onde as guitarras elétricas cedem espaço ao acústico – “De Alguém Hão de Ser”.
A diferença em relação ao primeiro EP é evidente. Se antes havia um lado mais cru e sujo, reminiscente do grunge, agora a sonoridade é mais refinada e as letras mais introspectivas. A teenage angst deu lugar a temas mais intrincados, quase líricos.
Mas apesar da evolução, a identidade da banda mantém-se. Os Marquise trocam o grunge por atmosferas mais densas e emocionais, onde guitarras e bateria se entrelaçam com a vulnerabilidade da voz de Mafalda. O ambiente, quase digno de um conto de Edgar Allan Poe, provoca inquietação e melancolia. Ela Caiu marca um novo capítulo na carreira da banda, consolidando-os como uma das propostas mais originais da música portuguesa atual.
Se ficaram curiosos, ouçam o disco e fiquem atentos aos concertos de apresentação, que vão percorrer o país. O melhor ainda está para vir.