Muito por culpa da nostalgia – que vende, e bem -, o shoegaze tem encontrado uma segunda vida ao longo da última década, após ter nascido num período que ora não o entendia ora o ignorava como mais um “movimento” de miúdos indie brancos. Empolado sobretudo pela imprensa dos inícios dos anos noventa, e deitado fora pouco tempo após o seu aparecimento, o shoegaze, nesse curto espaço de tempo, acabou por gerar álbuns hoje considerados essenciais para melhor compreender a história do rock e definir o seu cânone, casos de Loveless ou Souvlaki, e mitos mais ou menos apetecíveis, como os Ride.
Arruinado pelo hype e pelas subsequentes fotocópias que então apareceram, bem como pela explosão grunge e depois pela britpop, o género sobreviveu apenas nas cabeças daqueles que acabou por influenciar de forma mais ou menos notória, como o pós-rock de final da década. Mas haveria ainda muito terreno por desbravar; a prova disso, o surgimento do rótulo nu gaze… De bandas como os M83 (shoegaze aplicado à electrónica), Silversun Pickups e até mesmo The Pains Of Being Pure At Heart já bastante se escreveu mas, tal como anteriormente com os Catherine Wheel, The Ecstasy Of St. Theresa ou Curve, é nas margens que se encontram alguns dos seus momentos mais interessantes.
Os LSD And The Search For God são um deles, nascidos em 2005 e tendo editado, dois anos depois, um EP homónimo no qual se mostravam ainda demasiadamente colados à parede de som definida pelos My Bloody Valentine, mas com menos apetência pelo ruído e mais pelas melodias – tudo sob uma salutar camada psicadélica, até porque o seu nome a isso obrigava. Tendo criado algum burburinho na Internet pré-Facebook, desapareceriam logo depois, sem dar mais sinais de vida até há dois anos atrás, quando “Heaven” surgiu sem que nada o fizesse prever. Novos membros geraram nova música, e ei-los de regresso com o seu segundo EP, Heaven Is A Place.
A espera ter-lhes-à feito bem – e valeu a pena, aos fãs da banda, aguardarem todo este tempo. Heaven Is A Place contém a mesma sonoridade shoegazey que despoletou o nosso interesse há quase dez anos, mas já não é a melodia quem dita os tiques dos LSD, e sim o volume; a primeira faixa, “Heaven”, enche-nos os ouvidos com o mesmo ruído bom de Loveless, mas dotado de um negrume psicadélico não muito distante daquilo que faziam, por exemplo, os Telescopes – que haverão de ter sido igualmente influência nesta segunda vida dos californianos, visto que andaram com eles em digressão.
Sendo eles uma banda à procura de Deus – ou pelo menos é isso que o seu nome implica – também não ficam mal os ecos Spiritualized (tradução: a banda que O encontrou e que escreveu a sua banda-sonora) presentes em “Outer Space (Long Way Home)”, já depois do algodão-doce rodeado de pedais de efeitos em que consiste “(I Don’t Think That We Should) Take It Slow”, um título porventura irónico considerando o tempo que dista o primeiro do segundo EP… Sem contar com o temaço pop que é “Elizabeth”, e antes do ruído se desfazer em mar em “Without You”, canção de fim de trip onde ao longo de sete minutos os LSD aproveitam o merecido descanso após a bojarda. Nostalgia ou não, EPs (e, quem sabe, futuros LPs) destes merecem sempre ser valorizados, quanto mais não seja por mostrarem que ainda há muito pulmão presente no shoegaze, fotocopiado ou não. As guitarras ainda são um caminho para o céu.