All Hell é a surpresa do ano, autofinanciado, auto-lançado, auto-produzido e auto-referencial, o sétimo álbum da banda galesa é o álbum definitivo dos Los Campesinos!
Quem diria que iria estar, em 2024, a falar dos Los Campesinos!? O ano de 2009, no qual foram a minha banda favorita de sempre, já parece uma miragem tão longíqua que até tive que tomar dois comprimidos de memofante para trazer as memórias para este texto.
n.d.r. É mentira que este, ou qualquer outro membro da redação do Altamont, tome comprimidos ou outro tipo de substâncias de melhoria de performance para escrever os seus textos. Neste caso específico, quem conhece Alexandre sabe que a sua memória prodigiosa nunca precisará de tais suplementos, pelo que desconsiderem respeitosamente tal afirmação.
Descobri Los Campesinos! num acaso bastante fortuito – estava a passar uns dias com uns amigos em Barcelona em Novembro de 2008 e decidimos, numa dessas noites, ir ao Razzmatazz, mítica discoteca, conhecida tanto pelo seu lado clubbing como pelos concertos que ali se realizam. Nesse dia, na sala 2, fui agradavelmente surpreendido pela trupe de Gareth Paisey e seus comparsas galeses (o nome da banda, em castelhano, claramente leva ao engano), num total de oito membros, que encheram o palco com a sua intensidade, na senda de uns Broken Social Scene ou de uns Arcade Fire. Músicas catchy, com ritmo e bastante dançáveis, encaixando que nem uma luva no momento, no qual o indie estava no seu auge.
Por essa altura já os Campesinos tinham dois discos lançados no mesmo ano, Hold on Now, Youngster… e We Are Beautiful, We Are Doomed, portanto foi sacar MP3, comprar os CD’s, ouvir em repeat, passar músicas deles nas minhas sessões de DJ e aguardar por nova oportunidade de os ver ao vivo. Por clara influência minha, essa oportunidade não tardou, já que logo no ano seguinte (2009) foram incluídos no cartaz do Alive e lá estive eu, no meio de público já conhecedor, a vivenciar novo encontro com os galeses vibrantes. Ver uma banda que se gosta assim, no momento certo, continua a ser a uma experiência deveras agradável.
Depois, bem, depois lançaram um disco de seu nome Romance is Boring, mais emo, que não me cativou tanto, e fiz jus ao título do disco – abandonei o meu romance com a banda, invocando aborrecimento. As paixões são o que são, intensas mas efémeras e saber viver com isso é uma benção.
Fast forward para 2024, altura em que apanhei numa story do instagram de uma colega altamontiana uma referência a uma música deste disco e fui espreitar o mesmo. Foi uma explosão de nostalgia na minha cabeça, cada música que ouvia me transportou para diferentes partes de 2009, qual madalena a ser saboreada aos poucos e a fazer os circuitos neurológicos dispararem. Honestamente, não vos conseguirei dar certezas de este álbum ser mesmo tão incrível como o senti, enviesado que estou por toda esta envolvente relatada. Mas acho sinceramente que há em All Hell algumas das melhores músicas que os Los Campesinos! já fizeram, casos de “A Psychic Wound”, “Feast of Tongues”, “kms”, “To Hell in a Handjob” e “Holy Smoke (2005)”. É puro deleite indie pop/rock, com Paisey em excelente forma, atirando-nos com letras extensas e ambíguas, e uma banda por trás a criar um ambiente tão melancólico quanto encantador.
“All Hell is an album on… drinking for fun and drinking for misery // adult acne // adult friendship // football // death and dying // love and sex // late-stage capitalism // Orpheus // day dreaming // night terrors // the heart as an organ and as a burden // suburban boredom // Tears of the Kingdom // the punks on the playlist // increments of time // climate apocalypse // the moon the moon the moon ///”