Associamos o mês de outubro ao macabro, ao sinistro, ao terror. A culpa é do Dia das Bruxas, commumente conhecido por Halloween, a 31 de outubro, uma espécie de antagonismo à festa cristã Dia de Todos os Santos, a 1 de novembro. Aproveitemos o mês para a habitual introspecção mórbida de tudo o que está relacionado com a morte — e por que não fazê-lo através da música?
A personagem principal de “Hyperballad” de Björk faz isso todas as manhãs. Ao acordar, ainda de madrugada, coloca-se num precipício de uma montanha e atira objetos. “We live on a mountain/ Right at the top/This beautiful view/From the top of the mountain/Every morning I walk towards the edge
And throw little things off/Like car parts, bottles and cutlery/Or whatever I find lying aroundIt’s become a habit, a way to start the day.”
E prossegue. Os seus olhos acompanham a trajetória dos objetos até lá abaixo, imaginando o barulho, a brutalidade na descida da montanha. E imagina que é o seu corpo a cair do precipício. “I Imagine what my body would sound like/Slamming against those rocks.” Ao som de uma eletrónica crescente, num dramatismo pop raro, Björk romantiza uma tendência suicida — e apenas não avança pelo amor que tem à espera em casa.
O som da islandesa é raro, vale a pena ouvir e ouvir, mas a introspecção à morte não é nada incomum. No fim, acreditamos que a vida é, por si só, uma oportunidade a nunca ser desperdiçada — e a música é prova disso. Todos podemos recomeçar. Por isso, se precisar de falar com alguém, como a Associação Voz Amiga (963 524 660), disponível diariamente das 15h30 às 00h30, ou nós, Altamont, envie mensagem.