Os Evols são uma banda de rock no seu estado mais puro e editaram na passada sexta-feira o seu quarto álbum de originais intitulado The Ephemeral. Quisemos saber mais sobre esse novo trabalho e estivemos à conversa com um dos fundadores da banda nortenha, mais precisamente com Carlos Lobo, guitarrista dos Evols. The Ephemeral foi o ponto de partida para uma conversa sem guião.
Altamont: A minha primeira questão é uma curiosidade, porque reparei que vocês editaram quatro discos, com um intervalo perfeito entre lançamentos. Ou seja, Evols em 2010, II em 2015, III em 2020 e The Ephemeral em 2025. Foi propositado?
Carlos Lobo: (risos) Não, parece quase uma fórmula, mas não. Este disco era para ter saído mais cedo, mas não saiu por questões de logística e por o lançamento do disco anterior ter sido afetado pelo Covid, ou seja, no mês em que íamos lançar o disco, com todos os concertos lançados, o país fechou por causa do Covid. Foi o timing errado. Este disco até fizemos com mais tempo e íamos lançar mais cedo, mas, entretanto, surgiu a oportunidade de trabalhar com uma editora, a Fiasco e com a 8mm, que faz a distribuição, então adiámos um bocado o lançamento para coincidir com o timing deles e, coincidência, caiu nesse período de 5 anos. Nós demorámos sempre algum tempo a lançar um novo disco porque nós não vamos a estúdio, somos nós que gravámos e misturámos tudo e é um processo que demora imenso tempo. Todos trabalhámos e muitas vezes só temos um dia para fazer misturas, e esse dia são três horas à noite depois do trabalho, tudo isso torna difícil cumprir prazos de uma banda normal…
Então não é nenhuma fórmula matemática…
Não, não. Agora temos o desafio, e ainda ontem falámos sobre isso no ensaio de preparação para o concerto no Rivoli (31 de outubro), de não deixar passar nem dois anos para o próximo disco. As bandas também têm outro problema, que é, quando o disco sai, nós já tocámos o disco muitas vezes e já queremos tocar coisas novas. As músicas deste álbum, por exemplo, nós já as tocámos há dois, três anos. Também não queremos fazer aqueles álbuns que têm duas músicas boas e o resto é para encher, para nós cada música é como se fosse um single e trabalhamos mesmo cada música. Nós não pensamos, já temos duas músicas boas, estas vão para a rádio e ao vivo tocamos só estas duas… Aliás, nós fizemos um ensaio de concerto em que tocámos o disco todo, pelo meio metemos umas músicas antigas, mas temos estado a tocar tudo, o disco todo. E isso demora um bocado de tempo a apurar, porque se as músicas não estão bem nós pomos de lado, ou elas resultam ou então são descartadas.
Como é que funcionou o processo criativo e de composição deste novo disco?
Os Evols têm como base guitarras, ou seja, as composições são, quase todas, feitas a partir de guitarra, às vezes começam numa guitarra acústica a tocar em casa, depois passa para a guitarra elétrica. Geralmente é o Vítor (Santos), que é o vocalista e guitarrista, que traz uma ideia para o ensaio e trabalhámos como banda. Numa fase inicial trabalham os três guitarristas, a tentar acertar entre nós as guitarras, depois, nos ensaios, começámos a introduzir o resto da banda, o baixista, o baterista…. Atualmente, temos a sorte da banda ter músicos com uma sensibilidade enorme, como o André Simão que toca nos Sensible Soccer, Dear Telephone. Neste disco foi importante também o Rafa (Rafael Ferreira), que era dos Glockenwise e o Sérgio (Bastos). Cada um vai trazendo o seu input e as músicas vão mudando no ensaio, um sugere uma parte, um break de bateria ou uma repetição de uma determinada parte da canção e vamos trabalhando isso nos ensaios. Nós não somos aquela banda que apenas ensaia para os concertos. Nós ensaiamos para compor.
Quantas vezes é que ensaiam por semana?
Ensaiamos uma vez por semana, sempre. Temos uma sala de ensaios, que é um espaço do Vítor e há um dia certo da semana, às vezes muda por causa de compromissos profissionais, mas temos um dia certo para ensaiar e começamos pelas músicas que pensamos tocar ao vivo, depois há sempre espaço para criar coisas novas e algumas vezes até um bocado de jam session, estamos ali a experimentar algumas coisas. Nós somos aquela banda onde somos todos amigos e então é quase como o clube de amigos que se junta para beber umas cervejas ou para jantar, nós temos a felicidade de nos juntarmos para fazer música. E temos um minibar que nos permite ter cerveja. (risos)
Isso é que é importante! Eu cheguei a ter uma banda e às vezes conversávamos e bebíamos mais do que ensaiávamos…
Também faz parte. Também é preciso. Mas a banda funciona também por causa disso, nós não vamos para o ensaio a pensar que isto é um trabalho, vamos para o ensaio que é o espaço para estarmos com os nossos amigos. Às vezes estamos no ensaio e estamos a falar de concertos, de discos ou coisas da vida e depois vamos tocar um bocadinho.
Sobre o novo disco, The Ephemeral, existe um conceito por trás deste trabalho? Como é que defines este disco?
Como o próprio nome indica o disco baseia-se na ideia do efémero, ou seja, hoje passa tudo muito rápido, o que hoje é novidade, amanhã já ninguém quer saber e a música sofre um bocado disso. Todos os dias estão a surgir coisas novas, as plataformas sugerem coisas novas todos os dias baseadas nas tuas playlists e tu muitas vezes nem sequer perdes tempo a ouvir um disco com atenção. O nosso disco tem um bocado a ver com essa ideia, destes tempos muito efémeros, onde algumas coisas parecem perdidas. O disco fala, também, do estado atual do mundo, que não é muito positivo, temos guerras, temos aquilo que está a acontecer em Gaza, o crescimento da extrema-direita, o falhanço do projeto europeu e, apesar de nós sermos pessoas positivas, sentimos esse peso do mundo. Isto nota-se nas letras das músicas, falamos desse existencialismo não muito positivo dos últimos tempos…
Mas, musicalmente, a nível sonoro e de melodias, a disco soa a algo positivo e até diria alegre, de certa forma…
Sim, é o nosso disco mais expansivo, porque abrimos a outras sonoridades. Temos convidados, como o Rodrigo Amado no saxofone, a Calcutá (Teresa Castro) e a Sara Macedo nas vozes, nunca tínhamos tido vozes femininas… Os sintetizadores ganham algum destaque neste disco, o que abre também o espectro sonoro da banda e não ser só uma banda de guitarras, bateria e baixo. Nesse sentido quisermos evoluir um bocado.
Como é que surgiram essas colaborações?
Nós trabalhámos primeiro o instrumental, as músicas são feitas ainda sem uma letra, o Vítor ensaia umas coisas a cantar, às vezes até cantamos letras de canções antigas para ir experimentando a métrica. Quando sentimos que é preciso uma voz para trazer algo doce, ou uma melodia mais delicada e pensámos que tem que ser uma voz feminina para cantar com o Vítor. Nós conhecíamos a Teresa, do projeto Calcutá e antes de Mighty Sands, que nós gostávamos imenso e sabíamos que ela estava a morar no Porto, por isso, seria fácil ela vir às nossas instalações gravar. A Sara Macedo também é conhecida do grupo, sabemos que ela é cantora e que canta bem. O Rodrigo Amado foi de uma relação pessoal minha, porque o Rodrigo Amado para além de um grande saxofonista, é um excelente fotógrafo. E eu conheço-o da fotografia, porque eu também faço fotografia, convidei-o e ele aceitou. Aliás, inicialmente ele pediu para ouvir as músicas, nós marcámos um estúdio em Lisboa para ele e ele numa tarde gravou quatro músicas. Estávamos à espera de uma e ele mandou quatro. Ele disse, vejam se serve alguma delas, ao que respondemos, servem as quatro. (risos)
O saxofone é algo novo no vosso som, certo? É um instrumento que veio dar uma outra dinâmica à vossa música, outra sonoridade…
Sim e tem um bocado também a ver com o rock também, saxofone, tipos sujos, também… É um instrumento que entra e dá logo outra sonoridade. Queremos até, sempre que for possível, o Rodrigo Amaro tocar connosco em alguns concertos especiais. Era para tocar connosco no próximo concerto no Porto, mas ele está fora do país. Quando formos tocar a Lisboa, ele já se dispôs a vir tocar connosco.
Será algo interessante, trará outra dinâmica e acaba por ser uma experiência diferente…
Claro. A Calcutá também irá estar connosco nos concertos, sempre que possível. Tudo depende também dos cachês, dos espaços, etc.
Ouvindo sequencialmente os vossos discos, talvez não encontremos uma grande diferença entre eles, a nível de sonoridade, mas se ouvirmos o primeiro disco e logo de seguida este último, pelo menos na minha opinião, parece-me que o primeiro disco é muito mais experimental e este é um pouco mais pensado. Concordas com isto?
Sim, concordo. O primeiro disco é um disco que eu gosto imenso. É o disco mais puro. Éramos três guitarristas, gravávamos em casa e ainda a tentar descobrir o nosso som. Eu cantava, por exemplo, imensas músicas no primeiro disco, mas, entretanto, sentimos necessidade de evoluir, arranjamos um baixista, um baterista para tocar ao vivo para não ser só 3 guitarras. De repente, nos ensaios tens também essa parte rítmica, começas a compor de forma diferente e este disco é o culminar desse trajeto. No terceiro disco introduzimos as teclas que não tínhamos no segundo, as teclas também trouxeram um novo diálogo com as guitarras e este disco acho que é um bom resumo do caminho que nós fomos fazendo até agora.
Há realmente novas sonoridades, têm free jazz, funk em algumas partes. Eu sei que vocês estão sempre a tentar abraçar novas ideias, percorrer novos caminhos, mas estes que surgiram neste disco, qual é a inspiração? Como é que surgiram?
Eu acho que nasce muito da diversidade musical de cada um de nós, ou seja, eu ainda sou um tipo muito clássico no sentido de que gosto muito da melodia, eu gosto muito de cantores como o Cass McCombs, como o Kurt Vile… O Vítor já ouve coisas mais diversificadas e eu acho que é um bocado isso. O Vítor vem com a influência de uma coisa que tem andado a ouvir e até faz uma linha de guitarra mais funk, mas depois como nós temos de tocar as músicas ao vivo, o processo também acaba por condicionar a música, ou seja, como nós não somos virtuosos, de repente a música tem de ser mais simples para nós conseguirmos tocá-la. Nós não disparámos nada de loops ao vivo, nós tocámos tudo e esse lado orgânico da banda de dizer, eu agora curtia tocar só duas notas nesta música toda, isso é uma raiz que vem do início dos Evols, esse minimalismo que força a banda a não ir para coisas muito distantes da sua génese.
Vocês já abraçaram diferentes vários estilos musicais. A minha questão é, existe algum limite, alguma coisa que vocês digam, não, este estilo musical não?
Eu acho que não iremos fazer música de dança, de tecno, com batida, acho que aí não chegámos. (risos) Nós somos uma banda clássica, três guitarras, baixo, bateria e sintetizador. E gostamos do que tocamos, ou seja, somos aquela banda que gosta do que faz. Acho que o primeiro fã dos Evols é um dos elementos dos Evols. Isso permite ter essa independência, ou seja, nós não começamos a cantar em português porque de repente cantar em português é o que tem mais airplay, não está nos nossos planos. Somos assim e se as pessoas gostam do que fazemos para nós é um bónus. Não vamos tocar de determinado jeito só porque é isso que está na moda e porque é o que as pessoas estão a ouvir atualmente… Nós não vamos por aí. Andámos nisto há tanto tempo que já não temos a ilusão de que se fizéssemos isso, íamos ter mais concertos, mais airplay. Não é isso que nos guia.
Por acaso era uma questão que te ia colocar, porque gostava de saber qual é a ambição que têm para este novo disco, ou seja, há alguma ambição de ter mais notoriedade, de passar mais na rádio, de ter a oportunidade de fazer uma tour pelo mundo fora, ou apenas para continuarem a tocar e a fazer aquilo que gostam? Qual é a ambição? Se existe…
Sim, existe. Nós queremos sempre tocar mais, obviamente. Mas, estamos numa fase de vida em que já não somos jovens, temos compromissos profissionais, familiares, etc. Queremos tocar no estrangeiro, eventualmente, voltar a tocar em Espanha, adoraríamos tocar em França, Inglaterra, mas tem de ser algo muito bem programado, porque nós não temos essa liberdade de ir agora para a estrada dois meses, isso é impossível. Nenhum de nós consegue sair da sua profissão durante dois meses. Por isso também somos realistas, ou seja, nós sabemos até onde podemos ir, queremos tocar em festivais, claro, queremos ter o máximo airplay possível, queremos que as pessoas ouçam, e queremos que as pessoas venham ver o concerto de Evols, com a intenção de ver mesmo os Evols, como eu vou ver bandas que gosto. E já vamos tendo pessoas que aparecerem nos concertos para nos ver e que são fãs da banda. Queremos também tocar em todo o Portugal porque há sítios que nunca fomos…
Quem ouvir este disco o que é que gostavas que as pessoas sentissem quando o estivessem a ouvir, no fundo, o que é que pretendem partilhar ou comunicar ou que mensagem querem passar para as outras pessoas?
Eu acho que toda a arte, de certa forma, suaviza a existência. O trabalho é uma parte da vida, mas eu acho que a fruição das coisas que gostamos é importante e pode ser gastronomia, pode ser ir ao cinema, pode ser um bom livro.. Eu gostava que ao ouvir Evols melhorasse o dia das pessoas, alguém que vai para o trabalho e de repente há uma música de Evols que passa e diz “altamente”. De repente aquele momento fê-lo escapar da sua realidade e no fundo nós conseguimos proporcionar esse espaço de fuga e também de fruição auditiva. Eu tiro um tempo do meu dia para ouvir música, sento-me e ponho um disco que gosto e ouço de início ao fim e isso para mim é importante, é tão importante como ir ao ginásio, ou outra coisa qualquer, eu preciso disso para o meu dia ser um dia positivo. Se a música dos Evols permitir isso, é incrível… Ou, por exemplo, se a música de um casamento for um tema dos Evols, perfeito!
Ou terem uma música que fosse aquela que estava a tocar quando duas pessoas se conheceram e apaixonaram…
Isso… Ou ter alguém a dizer que, neste momento, uma das minhas bandas preferidas são os Evols, era perfeito. Mas é engraçado porque eu digo sempre que quem gosta de rock, quem gosta de guitarras, quem gosta de canções, gosta de Evols. Acho que as músicas funcionam, são bem construídas, não é música para encher.
No fundo vocês são uma banda na essência mais pura do rock, é uma banda rock. Têm todas as características de uma banda rock, guitarras, bateria, voz, som de guitarra distorcido, ou seja, tudo o que se quer numa banda rock…
Sim. Hoje há um fenómeno interessante que se prende com o facto de estarmos tão ligados a máquinas, aos telemóveis, aos computadores e depois ir a um concerto de um tipo com um computador à frente, ou seja, eu passei o dia em frente ao computador e estou a ver um tipo em frente ao computador, parece um espelho do meu dia… No entanto, se eu for ver o concerto de uma banda, com músicos, a energia é diferente, é por isso que eu acho que as bandas nunca vão acabar, há uma espécie de comunhão e eu acho que o rock tem isso!
Tu continuas a ouvir música e a procurar coisas novas?
Sim, sempre. Eu compro, mais ou menos, dois discos em vinil por mês. Neste fim de semana comprei uma antologia da Joan Baez, comprei um disco dos Rolling Stones, que andava para comprar há muito tempo, um disco antigo, e comprei um novo de Cass McCombs, que ainda não tinha.
És dos da velha guarda, como eu, que ainda ouves álbuns em vez de apenas canções?
Sim, não consigo escolher uma música, tenho de gostar de todo o disco e esse é o meu crivo. Claro que há músicas que gosto mais, mas eu tenho de gostar do álbum e não apenas de uma ou outra música. Bandas que têm uma música só, não me lembro nenhuma que goste. Os músicos que eu gosto, têm essa coisa do álbum como um conceito, como uma coisa completa. Nós nos Evols também temos isso, ou seja, quando nos perguntam qual é a tua música preferida, são todas. Claro que, quando tocamos ao vivo, se calhar gosto de tocar umas mais do que outras, porque gosto mais da minha linha de guitarra nesta música do que noutra, ou dá-me mais prazer tocar determinadas melodias, mas gosto do disco como um todo. E eu gosto daquela coisa do vinil que é, tens de te levantar para virar para o outro lado. (risos)
Sim, mas tu costumas, por exemplo, usar o Spotify ou outras plataformas do género?
O Spotify eu boicoto. Aliás, eu sou um dos da banda que quer boicotar o Spotify por causa do apoio a causas que eu não simpatizo, por isso o Spotify está erradicado. Mas a banda insiste que é importante estar lá. Eu tenho o Tidal e é engraçado porque eu não consigo que o Tidal me sugira coisas, eu não gosto. Eu gosto de ir lá e escolher o que quero ouvir. No outro dia vi na biblioteca do Tidal um disco que já não ouvia há muito tempo, e disse, vou ouvir este disco, e fiz a viagem a ouvir esse disco. É uma vantagem ter uma biblioteca num telemóvel. É um privilégio enorme, claro. Mas em casa, apesar de ter streaming, eu ponho os discos de vinil. Eu gosto muito de imperfeições, de ouvir o ruído.
Sabe melhor assim, até porque o rock não é para ser perfeito, concordas? No rock tem de haver alguma sujidade, imperfeição, senão não é rock…
Concordo. Até pegando no conceito do The Ephemeral, é interessante porque hoje tens discos clássicos, certo? Tens os discos de Neil Young que são clássicos, tens os discos de Bob Dylan que são clássicos… Depois, como as coisas são feitas hoje, eu não sei se haverá clássicos dos nossos dias, porque é tudo tão rápido. Daqui a uns anos um tipo vai voltar a ouvir Tame Impala? Não sei, apesar de eu gostar, mas será que daqui a uns anos o pessoal vai saber quem é Tame Impala? Mas, se calhar, vai continuar a comprar discos do Neil Young, dos Led Zeppelin, por aí adiante. Alguma coisa qualquer ali que é intemporal.
Sim, isso é verdade. Porque são tantos discos a saírem ao mesmo tempo, que tu mal acabas de ouvir um disco saltas logo para outro e não dás a importância nem o tempo que cada disco merece…
E não conseguimos acompanhar tudo, nem consumir tudo. Há muita oferta. É como quando vais à Netflix e tens mil filmes para ver e depois até bloqueias, não vês nenhum. Passaste uma hora a fazer scroll, vais adicionando aos favoritos e não viste nenhum.
Qual é o maior desafio de uma banda neste momento?
Primeiro, hoje é difícil uma banda subsistir e falo porque eu toco há 20 anos em bandas. Tinha uma banda anterior que era os Clockwork e há 20 anos os cachês eram iguais ou às vezes maiores do que nós recebemos hoje. Com o Clockwork íamos tocar e ganhávamos 300 contos, que são 1500 euros. Hoje para algumas vezes negociar um cachê desses não é fácil, porque o pessoal põe um DJ e é mais barato, ou nem precisa ter bandas para tocar música. Cada vez há menos espaço para as bandas tocar. Cada vez é mais difícil.
Achas que há menos espaços para tocar?
Há menos espaços para tocar. Há mais festivais curiosamente, mas há menos espaços para tocar. Acho que há mais bandas, acho que está a haver um comeback de bandas de miúdos, pessoal com 16, 17, 18 anos a fazer coisas. Os miúdos hoje têm acesso a equipamento que para nós era muito difícil, não havia quase lojas de guitarras na altura que eu comecei. Hoje os putos vêm vídeos do YouTube aprendem a tocar as músicas todas rapidamente. Eu acho que há uma geração nova que está a querer fazer bandas e perceber a importância das bandas. Acho é que os espaços ainda estão numa lógica de má programação, porque para ter uma banda obriga a ter um PA, obriga a ter um palco e dá muito trabalho. Então mais vale ter uma cabine onde tenho um DJ a tocar e faz a festa na mesma.
Eu também tenho essa sensação, mas, esperemos que não, que o rock continue…
Sim, há de continuar. Se fores aqui aos nossos vizinhos, em Espanha, o rock é muito forte em Espanha. Fiz um festival de música em Espanha e não tem nada a ver com um festival em Portugal. Os espanhóis curtem tudo. Podem tocar os Metallica, a seguir vem os Yo La Tengo ou a Taylor Swift, e eles curtem tudo. A música é uma festa. Em Portugal, os festivais são um sítio para se estar, porque agora está na moda, é para fazer umas selfies e para as colocares numas stories… Eu às vezes estou em festivais, quero ouvir música e está o pessoal a falar o concerto todo. Eu pergunto, o que é que este tipo veio aqui fazer? Não veio ouvir música, mas também não vai embora. Isto não é um clube, o pessoal está aqui para ouvir estes tipos a tocar, o mínimo que tens de fazer é estar calado e ver os tipos.
É verdade. Isso infelizmente acontece muito e cada vez mais, principalmente nos festivais. As pessoas já não têm paciência para ver um concerto inteiro, pelo prazer de ver um concerto, porque querem é tirar fotos, filmar, falar, etc… Cá está o tema do vosso disco, hoje é tudo efémero, passa tudo muito rápido…
Sim. É tudo muito rápido. Eu tenho dois filhos, algumas vezes pedem-me para pôr música no telemóvel e eles não ouvem as músicas até o fim, ouvem um minuto ou dois e passam para a seguinte… Eu digo para deixarem acabar a música, eles respondem que já ouviram e simplesmente não conseguem ouvir a música toda.
Os miúdos não têm paciência para ouvir uma música com três minutos…
Mesmo. Na minha primeira banda, que era Clockwork nós tínhamos uma música com a qual abríamos os concertos e que tinha 20 minutos. Algum pessoal desistia e ia embora, outros ficavam… Mas fizemos de propósito, a primeira música são 20 minutos e os primeiros 10 eram dois acordes. Era para duros. (risos)
Quais são os planos para o futuro próximo dos Evols?
Lançamos o disco, o vinil está incrível, está como nós queríamos, no sentido de objeto. Vamos lançá-lo no dia 31 no Porto, no Under Stage do Rivoli e no dia 5 de dezembro na Casa Capitão, em Lisboa. Penso que até ao final do ano são estas duas datas e depois em 2026, estamos a tentar marcar algumas datas e tentar tocar o máximo possível, ou seja, fazer a tour do disco.
Alguma novidade para esses concertos?
Sim, a ideia é ter os convidados nos concertos de apresentação. Obviamente, não conseguimos controlar a agenda pessoal deles, que também são músicos e têm outros projetos, mas sempre que possível, ter esses convidados a tocarem connosco. Estamos ainda a ver se conseguimos ter uma componente visual, mas ainda está a ser preparado.

