Passaram uns dias da notícia em si, mas o Altamont não é uma central de notícias, pelo que preferimos tirar uns dias para assentar poeira e agora sim, escrever umas linhas sobre o enorme Charles Bradley, que nos deixou no passado sábado.
A história de Bradley é por demais conhecida, uma vida complicada, itinerante, feita de empregos para sobreviver às dificuldades e pouco tempo para a sua paixão, a música. Passou 62 anos à espera de uma oportunidade, e quando a mesma lhe apareceu, em forma de um anjo de seu nome Gabriel Roth (Daptone Records), agarrou-se à mesma com a força de um jovem que tem a vida toda pela frente. Cantou as amarguras por que passou, e passou a espalhar a mensagem do amor, em Paredes de Coura em 2015 disse repetidamente “I’m all about real love”, mostrando que conseguiu ver o lado positivo da sua vida, focando-se mais na sorte que teve aos 62 do que na falta dela antes disso. Mensagem fortíssima, passada em forma de pastor em cima do palco, descarregando energia a rodos, dando tudo de si ao público, que sempre lhe retribuiu o sentimento mais cantado, escrito e debatido de todos os tempos. Está tudo documentado, em Soul of America (de Poull Brien), filme que passou no SXSW e no nosso IndieLisboa em 2013.
Em abril do ano passado, aquando do lançamento do seu último álbum Changes, o nosso escriba Duarte Pinto Coelho assim encerrava o seu texto: “Charles Bradley é um artista ímpar que, cada vez que lança um disco, faz do mundo um lugar menos feio. Changes é mais uma dessas dádivas. Façamos a devida vénia.” Façamos vénias ouvindo Charles Bradley ao longo dos tempos futuros.