caroline 2, segundo trabalho da banda britânica caroline, aprofunda a proposta estética e emocional que o grupo apresentou no seu elogiado disco de estreia homónimo.
Os caroline são uma banda de Londres, formada em 2017, cujo primeiro disco, de 2022, cativou alguma atenção na crítica especializada por aí. Podemos colocá-los na categoria de mini orquestra, à semelhança de uns Arcade Fire, Broken Social Scene, Black Country, New Road, já que é constituída por 8 elementos e uma consequente panóplia de instrumentos ao dispor.
Disco de díficil digestão e análise, caroline 2 é uma espécia de montanha russa onde cabe tudo e um par de botas. Chegamos ao final dos quatro minutos e meio de “Total Euphoria” sem perceber bem o que aconteceu, tal a dose de ocitocina que a canção nos cria no cérebro. É pós-rock no seu melhor, uma tensão constante, sempre à beira da explosão que nunca chega. Quando parece que acabou, levamos com um drone e a cacofonia sobe de nível, cada instrumento a tocar num compasso diferente, até que implode em si. Passamos para “song two”, nome arriscado para se dar a uma canção, dada a proximidade com uma bem conhecida com o mesmo nome, apesar de grafada de forma diferente. Aqui estamos noutra praia, mais íntima. O tempo está farrusco mas vai abrindo, à medida que a música avança, aparecendo uns raios de luz inesperados. Bom momento de experimentalismo da banda, que se espraia para “Tell me I never knew that”, com participação de Caroline Polachek, ícone pop que partilha nome próprio com a banda. Também aqui, há mais do que uma música dentro da mesma, com as camadas de harmonias a criarem uma avalanche de som que nos arrasta colina abaixo, enquanto nos enchem os ouvidos com um mantra “It always has been, it always will be / it always happens, this always happens” desesperançado.
É chegando a este ponto que o disco me perde (momentaneamente) – entra “When I get home” e com ela autotune, vocais esparsas, só texturas e zero propósito. “U R UR ONLY ACHING” mantém o pior “instrumento” inventado na história da música (o referido acima autotune) que me causa alergia e acne, ao ponto de pensar várias vezes em processar quem o usa, a ver se safo um milhãozinho.
Após referência (propositada ou não) aos Blur, segue-se uma à banda do momento – “Coldplay cover”. Temos um registo mais acústico, e sabemos de fonte fidedigna que a música foi gravada com os membros dos caroline em espaços distintos, a tocar músicas diferentes. O resultado é uma colagem sonora, onde os microfones captam múltiplas realidades simultâneas – podemos falar de uma experiência imersiva sem assustar os mais cautelosos?
Para fechar o disco, duas canções compridas, “Two Riders Down” em crescendo, com um clímax explosivo mas sempre contido, e “Beautiful Ending”, serena, acolhedora, metais e cordas em duelo. Não fosse o autotune e seria uma brilhante forma de encerrar e mandar-nos seguir as nossas vidinhas em paz.
caroline 2 é o álbum que os Black Country, New Road poderiam ter feito nesta sua nova fase de carreira, mas não fizeram. Ambicioso, com partes bem arranjadas e experimental, mas com um resultado nem sempre conquistador.