Em 2 horas, Benjamim percorreu o seu mundo e fez do B.leza a sua sala de experimentação criativa. Foi uma bonita festa de amigos, no palco e fora dele.
Há 10 anos, Walter Benjamin deixou Londres e instalou-se no Alentejo, renascendo como Benjamim. Para trás ficaram os discos em inglês e no horizonte o grande desafio de se encontrar nas canções em português, na sua língua materna, na sua casa. Auto Rádio saiu em 2015, depois de viajar por 33 terras portuguesas, para 33 concertos, em 33 dias, numa carrinha Volkswagen de ‘96 cheia de futuro e de um sucesso de que, na altura, Luís Nunes era céptico.
Percorridos mais de 5600 km em estradas nacionais, o concerto de apresentação do disco foi na ZdB, acompanhado de Nuno Lucas e António Vasconcelos Dias e contando com alguns convidados. 10 anos depois, na quinta-feira que passou, o concerto repetiu-se no B.leza, entre amigos e muito carinho pela carreira que entretanto se construiu.
O palco estava decorado com balões e os vários instrumentos dispostos anunciavam uma banda grande. Ao par original Nuno Lucas e António Vasconcelos Dias, juntaram-se Raquel Pimpão, Manuel Pinheiro e João Correia para tocarem com Benjamim. O Auto Rádio foi tocado de uma ponta à outra, com a mestria que estes músicos exímios oferecem sempre, numa lógica de versões estendidas de algumas faixas e versões encurtadas de outras.
Uma das grandes alegrias desta noite foi o número surpreendente de convidados especiais que subiram ao palco. Daí que, mais do que o aniversário de um disco, estávamos todos ali reunidos para a celebração de uma discografia, com os agradecimentos devidos a quem dela tem feito parte ao longo dos anos. Selma Uamusse trouxe o seu sorriso contagiante para cantar “Tarrafal”, a segunda faixa do disco e aquela que tirou a timidez à plateia para dançar. “O Quinito Foi para a Guiné” teve a participação de Jónatas Pires e Pedro Girão acompanhou “Auto Rádio” e “O Exílio”. O grande furor da noite deve-se, porém, a AP Braga, que veio cantar “Rosie” e deixou toda a gente muito feliz.
Terminado o álbum, o concerto ainda ia a meio. Samuel Úria apareceu para “Os Raros” e seguiram-se breves regressos aos discos que vieram depois: 1986, Vias de Extinção e As Berlengas. Em 2 horas, Benjamim percorreu o seu mundo e fez do B.leza a sua sala de experimentação criativa. Entre os sintetizadores que já conhecemos e estimamos tão bem e a constante troca de instrumentos, o alter ego de Luís Nunes fez uma bonita festa de amigos, no palco e fora dele, e tocou, parece-nos, de forma ainda mais aprimorada, ainda mais dedicada, se tal for possível. Diz que não sabia o que estava a fazer quando compôs o Auto Rádio e hoje duvida de muitas das suas escolhas, mas garantimos que o público não grita a plenos pulmões as letras de qualquer canção.
Benjamim admite que, quando dá concertos, procura sempre explorar o texto aberto das suas músicas, dando-lhes toques que as gravações em estúdio não têm. Por isso, um concerto de Benjamim é sempre uma versão 2.0 do seu repertório, que se extingue naquele momento e que deixa sempre vontade de voltar — porque um concerto de Benjamim é sempre novidade, dentro do conforto da familiaridade. Já todos ouvimos a “Dança Com os Tubarões” muitas vezes, mas é sempre uma alegria quando a dançamos novamente, em comunhão, em amizade. São 10 anos de Auto Rádio, mas é também uma década de concertos-festa que nos fazem acreditar que dançar cura todos os males e uma década de discos que, uns atrás dos outros, tentam sempre ir mais longe, mais fundo, mais perto.
Fotos cedidas por Vera Marmelo
Setlist:
- Eu Quero Ser o Que Tu Quiseres
- Tarrafal
- Sintoniza
- Os Teus Passos
- O Quinito Foi para a Guiné
- O Sangue
- Meteorologia
- Volkswagen
- Rosie
- Do Céu e da Terra
- Auto Rádio
- O Exílio
- Os Raros
- Ângulo Morto
- Vias de Extinção
- Atrás da Barricada
- Madrugada
- Incógnito
- Dança Com os Tubarões
- Terra Firme







