Os JUBA são uma nova banda lisboeta formada por um grupo de quatro rapazes: João Isaac (bateria), Joel Lucas (guitarra, teclado), Miguel Marinho (guitarra) e Tomás Frias (baixo, voz) são os nomes de um quarteto que, em conjunto com outros projectos portugueses, promete agitar as águas daquilo que se tem feito em termos de rock nos últimos anos, em Portugal.
Algures entre a sua formação e novembro de 2013, altura em que lançaram o álbum, compuseram e gravaram as dez músicas que figuram neste Mynah, álbum de estreia da banda. Referiam há pouco tempo, em entrevista ao Altamont, “Para além das dez músicas do Mynah não tínhamos mais nada para gravar, normalmente as bandas fazem umas vinte músicas e depois escolhem, nós não.”; e ainda bem que o fizeram: as dez músicas que encontramos neste álbum enquadram-se numa dinâmica muito própria, numa harmonia quase perfeita entre a vivacidade e a raiva, relação de mútuo benefício que resulta numa excelente energia, mas também num ambiente turbulento, no qual parece haver sempre espaço para momentos de catarse e expansão mental.
Isto resulta da sonoridade: uma base rítmica que vai buscar muito do que nela se ouve ao krautrock, mas sobre a qual assenta um psicadelismo estranho, que utiliza elementos do estilo de guitarra do surf rock e a estética da dream pop para criar uma espécie de novelo de experiencialismo banhado em reverberação, onde todas as diferentes camadas se congregam perfeitamente e de onde surgem viagens inesperadas (por selvas, céus e quem sabe mais o quê…). Quase todas as músicas de Mynah apresentam estes elementos, embora combinados em proporções diferentes, não comprometendo, assim, a integridade de cada música.
Em Mynah, considero existirem duas partes. Uma primeira, que se inicia pela música de abertura “Injun Bayou” e que vai até “Bloodvessels”, encontramos um aumento progressivo de energia que termina com as linhas de guitarra fervilhantes da última canção referida. Numa segunda parte, que se estende de “Victorian Creeps” até “Grapheme”, as guitarras febris, fortes e rápidas dão lugar a harmonias mais coesas e que se tornam mais hipnotizantes, criando ambientes sonhadores e até etéreos.
Existe ainda espaço neste álbum para os tais momentos de expansão mental de que falava; a título de exemplo, temos “Ante VC”, música intermédia que, apesar de ser o prelúdio de “Victorian Creeps”, separa as duas partes de Mynah. Nela, a camada instrumental parece ser o produto do estudo, por parte de uns pupilos muito atentos, das lições do “professor” Brian Eno. Ouve-se, também nesta faixa, uma guitarra borbulhante, a fazer lembrar uns Animal Collective na fase de Sung Tongs ou Feels.
O álbum termina com “Mynah / Lull” que, nos seus seis minutos e trinta e oito segundos, congrega elementos das duas partes do álbum e na qual os JUBA justificam ao ouvinte o porquê deste lhes ter dado o seu tempo a ouvi-los e onde fazem a sua afirmação enquanto banda.
Tendo sido editado pela Pontiaq, Mynah foi gravado nos BlackSheep Studios, contando com a produção de Makoto Yagyu e Fábio Jevelim, que certamente terão ajudado o grupo a atingir a sonoridade desejada. No entanto, quer isto tenha acontecido ou não, o mérito é todo dos JUBA por terem conseguido criar este excelente álbum. São de notar algumas semelhanças aos DIIV, uma das influências do grupo, em algumas das suas canções (mais evidentes em “Victorian Creeps”); mas, como seria de esperar, as visões artísticas das duas bandas são bastante diferentes, fazendo com que os JUBA retirem das suas influências (aqui referindo-me não só aos DIIV) apenas o necessário para, embora ainda considerando a banda como pertencente à “fase em que ele [Simba] salta entre as girafas, aprende com o Timon e o Pumba”, atacar com força e de garras afiadas o que os espera.
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