Pode soar a cliché, mas: o punk está vivo e recomenda-se.
Prestes a lançar novo álbum, Vaiapraia anunciou dois dias de concertos com duas bandas convidadas, em fevereiro, nas Damas, em Lisboa.
Com uma bandeira branca que diz “Rock pela Palestina”, sobem ao palco as Lesma, a primeira banda a tocar nesta noite fria de quinta-feira. Composta por três miúdas cheias de garra (riot grrrls sai-lhes do sangue e dos dedos, parece-nos) rapidamente agarram as pessoas presentes, com uma sonoridade crua e elétrica (a guitarra estava desafinada? Estava. Isso fez com que soasse pior? Aos nossos ouvidos, não).
Fala-se muito sobre esta Geração Z e sobre os seus talentos e afins (não é assim com todas as gerações?), mas as Lesmas mostram que com talento, vontade (e “à-vontade”), muito despretensiosismo, se dá um espetáculo entusiasmado e divertido.
“Há Marias aqui? Esta música é para as marias, as marias que têm uma grande pila”
Sabem quando os vossos amigos vão ver os vossos concertos e curtem bué, fazem a festa e divertem-se tanto ou mais do que a banda que está a tocar? O concerto foi isso, com vários fãs/amigos, inclusivamente o nosso amigo Rodrigo Vaiapraia, em frente ao placo, a dançar (e cantar) freneticamente durante praticamente todo o set das Lesma.
Pouco depois arrancou a estrela da noite, Rodrigo Vaiapraia sempre com o seu estilo mais punk do que todos os que ali estávamos, acompanhado por chica na guitarra, April Marmara no baixo e Candy Diaz na bateria. O que se seguiu foi uma hora de punk, em que pudemos ouvir músicas novas, músicas antigas, sempre com muita energia e alegria, entre letras perspicazes e cáusticas (“Os homens continuam lesmas” – ei, não fomos nós que o dissemos) e guitarradas, teclas e bateria no ponto.
Há aquela ideia errada que o punk tem de ser (sempre) uma coisa crua, suja, agressiva, com falta de sentimento, mas não foi isso que vimos (ou sentimos). Para além do carinho notório do público, foi sobretudo um concerto divertido, político (porque a música é um acto político), com uma energia fulminante e um sentimento de pertença.
Durante o concerto entre pequenos moshes, um colectivo de pés e ancas a bailar, houve um pequeno momento de espanto. No fim de uma das músicas, as luzes apagam-se. Ainda estávamos todos a pensar que teria sido falha de eletricidade, eis se não quando começa a tocar (às escuras) a maravilhosa “Tão Só” da Paula Ribas (cover da “Downtown” da Petula Clark). Após este pequeno interlúdio, o concerto retomou para mais umas músicas de punk rock suado, com um público contente a acompanhar em coro.
Resumo: Vaiapraia num concerto incrível, punk as fuck (como sempre), com uma energia que é o que queremos para 2025.
Fotografias: Rui Gato























