No último dia de festival, o Sol apareceu para realçar a ampla paleta musical do Sonic Blast!
E ao último dia o Sol finalmente aparece!
É um chavão, mas cheio de razão. Sol numa tarde de festival pede um copo de cerveja! À vossa! Cerveja e good old Rock n’ Roll! Pesado e cheio de groove, de preferência! Nem de propósito, o power trio The Atomic Bitchwax está no palco 2 a destilar riffs de alta voltagem! Estes meninos não nasceram ontem e sendo oriundos de New Jersey, não estão aí para facilitar. Malha atrás de malha, o pé direito continua no acelerador até acabarem com a sugestiva “Shit Kicker”.
Querida prudência. Convém não nos despistarmos, abrandemos então um pouco. Abram-se as janelas e sinta-se a brisa. Os King Buffalo vêm impôr o groove e a coolness! O stoner rock deste trio de Rochester (Nova Iorque) é fluido e mesmo muito cativante. É simplesmente impossível parar de menear a cabeça e de bater o pé. Impossível será igualmente destacar apenas um dos seus ingredientes. Cada uma das pistas resultariam bem isoladas: Voz, guitarra, baixo, bateria e até a utilização ocasional de sequenciadores … tudo no sítio certo, tudo brilhante! Agora, se levantarem todos os botões no máximo e a coisa entra para o domínio do Magistral. Acesso direto para o meu top deste festival!
A viagem prossegue para Norte. Próxima paragem: Canadá! Provavelmente, será boa ideia mudar um pouco o som. Olhos na estrada, garage rock no deck de cassetes do carro! Pode-se fazer surf em Vancouver? É que estes Dhead Ghosts colocam um pouco de Surf Rock na mistura. A secção rítmica mantém-se forte ainda que um pouco mais métrica do que antes. O Sax e as guitarras são, no entanto, predominantes e há um interessante jogo de graves vs. agudos que resulta muito bem! Com as trumpices em escalada, os canadianos tornaram-se mais orgulhosos da sua diferença e Bryan Nicol reforça-o na apresentação da cover de “World on a string” do símbolo Neil Young.
Para continuar a abrir a paleta sónica, seguem-se os Monolord. Peso é a palavra, e isso salta aos ouvidos na distorção saturadíssima do baixo e nas toneladas que deverá pesar o pedal do bombo! Estes suecos estão doidos, a prosseguir assim ainda nos cai mesmo o céu em cima! O Doom vem sujo como gostamos, ao ponto de podermos sair arranhados, não fora a voz um tudo nada adocicada de Thomas Jäger!
Abramos ainda um pouco mais o leque! Abramos ainda um pouco mais a mente! E se antes de ouvirmos os avós do punk, formos ver o que andam a fazer os netos com o seu legado? Não será repetir a fórmula, se aprenderam bem a lição… a mais importante, pelo menos, a do espírito aberto. Sei que nem todos concordarão, mas para mim estes Patriarchy teriam nota 20, se dar notas fosse uma coisa punk. Sim, a dupla californiana traz-nos uma mixórdia de estilos e influências – electro, dark wave, death rock, industrial post punk, synth pop, etc. – e nem tudo fará propriamente sentido como parecem admitir com o nome do disco de 2023 – Forcefully Rearranged – que em breve terá sucessor! Contudo, não será esse “sentido”, não será essa arrumação em categorias, só mais uma forma de restringir a liberdade? Os Patriarchy parecem concordar com essa ideia e esticam a corda … na estética, no formato, na ideologia, e consequentemente na abordagem sónica! Não é de fácil audição, é certo! Mas também não me parece que seja “fácil” o que quem vem ao Sonic Blast procura, pelo menos, na música. Inspirador!
E se mesmo agora falava de lições, Keith Morris e os Circle Jerks vieram ao Sonic Blast dar uma aula. Uma aula de cátedra, se também isso fosse minimamente punk! Uma aula com 29 canções seminais e quase tantos momentos de spoken word. Ainda nem tinham começado a tocar e já Keith apresentava o currículo punk (estas duas palavras juntas não vão mesmo nada bem, deveria ter escolhido outra metáfora… demasiado tarde, agora) de cada um dos membros da banda. Nos vários “intervalos” enumerou uma grande parte das bandas fundamentais do movimento punk da Califórnia e pediu desculpa pelo estado atual do seu país! Escusado será dizer que o quarteto foi acolhido com sorrisos rasgados, lágrimas de comoção, e claro, mosh a rodos e a já famosa via rápida de crowd surf!
Roda o palco! Se têm menos de 45 anos, perguntem aos mais velhos, que aqui quem dá explicações é o Keith Moris! O palco principal deixa a forma clube de punk e transforma-se na já aqui citada (mas noutros dias) disco gótica! A metamorfose estende-se, naturalmente, às primeiras filas para lá das grades, onde o preto agora domina por completo. Prolonga-se também à coreografia. Os movimentos arredondam-se. Agora baila-se! Os culpados são uns moços da Bielorrússia chamados Molchat Doma. Ah, e é verdade os três acordes distorcida da guitarra e a orgânica rítmica punk são substituídas por sintetizadores e caixas de ritmos! Sovietwave, EBM, synthpop é uma série de frases musicais, que eu poderia jurar já ter ouvido em qualquer lado, delicadamente misturados numa cave gelada de Minsk!
Chegou ao fim mais uma edição do Sonic Blast. Como é natural, o Deus Ozzy Osbourne este, este ano, ainda mais presente. Nas colunas entre concertos, nas versões, na iconografia, mas sobretudo na vontade de arriscar a ouvir e a dar a ouvir música diferente, mais ou menos de nicho, mais ou menos de culto, independentemente do estilo. Só com uma premissa, a liberdade!
Fotografias: Rui Gato






















































