No vídeo “What’s in my bag?”, para a Amoeba Music, com Sam Shepherd, também conhecido por Floating Points, ficamos a conhecê-lo enquanto “record nerd” (palavras do próprio). Até ao ano 2015, Floating Points tinha-se focado na eletrónica, tendo apresentado trabalhos como “Nuits Sonores” e “K&G Beat” – ótimas músicas de dancefloor. Mas algo aconteceu nesse ano, e Floating Points lança Elaenia, um disco que mostra o seu ecletismo em pleno. A eletrónica que conhecêramos tinha-se amezinado, com menos house beats, e é introduzida a faceta jazz-ish e post-rocky-ish de Sam. “Silhouettes (I, II & III)” é uma faixa de três partes com 10 minutos e com tantas texturas que quase se lhes perde a conta: uma linha de baixo muito forte, com uma guitarra tímida por cima, uma bateria jazzy e incansável a acompanhar, e instrumentos de sopro e cordas que surgem esporadicamente. Há uma espécie de sirene no primeiro segundo, como que a alertar para o que se avizinha; os instrumentos começam a juntar-se um a um, formando camadas e a tornar a composição cada vez mais densa, muito como Talk Talk fizeram em Laughing Stock. A bateria mantém-se, enérgica e quase inflexível, antes, durante e depois da inflexão que surge a meio, e durante a qual surge o momento mais harmonioso e épico dos 10 minutos. É impossível evitar viajar pela música, enquanto ela sobe e desce, como o pássaro com que Sam sonhou um dia e que acabou por inspirá-lo a compor Elaenia. Até que termina, apenas com o coro e os violinos, como o momento de paz após uma estafante corrida. “Silhouettes” é restless, quase rouba o fôlego, e altamente comovente.