Moelas, lagartos, feitiços e ácido para desenjoar. O septeto mais estrambólico da Austrália está de volta!
Devemos sempre celebrar quando, no ano de 2017, mais de meio século após o nascimento do rock n’roll, o estilo continua a fascinar novas gerações de músicos.
E é de celebração que se trata o novo álbum dos tresloucados King Gizzard & The Wizard Lizard.
O colectivo de Melbourne liderado pela guitarra de Stu Mckenzie está de regresso com um novo registo que utiliza harmoniosamente a cartilha clássica do rock, num caleidoscópio delirante de colagens feitas com mestria e polvilhadas pelas excentricidades idiossincráticas da banda.
Flying Microtonal Banana deve o seu nome ao preciosismo de Stu McKenzie, que adquiriu uma guitarra modificada feita por medida com ajuste microtonal e que permite intervalos menores que os semi-tons que são o standard dos equipamentos no ocidente. Preciosismo esse que acabaria por se estender aos restantes integrantes da banda que receberam de McKenzie a generosa oferta de $200 para que readaptassem os seus instrumentos.
Posto a circular dia 24 de Fevereiro deste ano com a chancela da ATO Records (nos EUA) e da Heavenly Records (Reino Unido) o disco apresenta um refrescante anacronismo, se me é permitido o oxímoro. Insiste em vozes acompanhadas de riffs, acelerações de bateria, tempos entrecortados e longas divagações alucinogénicas.
O estilo nodoso de algumas composições parece desafiar qualquer fleuma gnómica que teime em habitar a mente dos mais incautos. As sacudidelas são constantes e se não se sobreviver ao ritmo de “Rattlesnake”, a faixa introdutória, então mais vale acocorar-se, tirar a agulha do disco, calçar as pantufas e procurar conforto em sons mais melífluos.
Seguem-se os temas mais orelhudos do álbum. “Melting” transporta-nos para a África subsariana e o rock gingão que por lá se fazia na época e combina-o com uma certa noção de culpa pela pegada ecológica que nós, Homens, vimos lastrando (The earth is melting down/Our home and our playground/Won’t be fit for our children when our world/Has melted down). Em “Open Water”, a banda envereda por um discurso mais ritmado, com a secção baixo-bateria em pulsação constante, as guitarras cortantes e os vocais que se lhes juntam, embrulhando tudo num papel bem a condizer.
Destacam-se aínda neste registo “Sleep Driter”, verdadeira ode ao krautrock germânico do inicio da década de 70 em que, no interlúdio, a banda parece animar-se numa jam descomprometida e “Anoxia” que, começando num estilo sabbathiano e enveredando, logo após, pelo psicadelismo soixante-huitard com o pedal wah-wah a fazer as honras, se transmuta e nos transporta até à ambiência do sudeste asiático.
Os King Gizzard & The Lizard Wizard conseguem, com este último trabalho, afirmar-se na nova cena musical australiana às voltas com a cultura psych, apresentando-se como uma banda que celebra a salvação sob a forma da santíssima trindade do rock: guitarra, bateria e baixo.