Gānbēi (干杯) dos Cortada é um soco rápido e certeiro: oito faixas que variam entre chapadas e piscadelas de olho, sempre com a urgência de quem vem do punk e do noise e não tem tempo a perder.
A abertura, com “1234”, atira-nos logo para o centro do caos controlado — um baixo abrasivo, versos repetidos, nervo à flor da pele — e serve como cartão de visita para o resto do disco. Logo na sequência, “Fossa Séptica” encurta a respiração; curta e afogada, parece uma descarga sonora que sobra depois do deboche.
No centro do alinhamento do disco, “GP de Everywhere” e “+1 Show” mostram a ironia cortante da banda: riffs acelerados, refrões que se repetem como slogans e uma sensação contínua de palco mesmo quando se ouve em auscultadores (como comprovámos em concerto no ano passado na ZDB. “Capote” e “6-MMC” mantêm a pressão — baixo e bateria empurram sem dó, e a guitarra uiva como se fosse à força arrancada do amplificador. “Posterface” traz uma brevíssima explosão de imagem e frase feita, antes de “Cortada” fechar o disco como um resumo de identidade: cáustico, directo, implacável.
Embora o registo seja de estúdio, Gānbēi (干杯) consegue o feito de transportar a fricção e o suor do palco para disco: a produção não quer polir, prefere preservar arestas — a voz de Pedro Dusmond soa irónica e chateada, as guitarras têm margem para rasgar e o baixo fala alto — tudo isso contribui para a sensação de documentação de uma banda que funciona melhor em cima do palco. A própria nota de apresentação sublinha esse vínculo entre o disco e quem já os viu ao vivo.
Lançado em maio deste ano, e gravado por André Isidro (misturado por Simão Simões, masterizado por Leonardo Bindilatti), o álbum mostra que os Cortada são definitivamente um acto urgente da cena lisboeta — um disco que respira a cidade acelerada que o gerou e que, mesmo comprimido em oito faixas, continua a crepitar como se ainda houvesse público a berrar por mais.