A 20 de Maio de 1498, chegava Vasco da Gama à Índia. Em 1572, Camões imortalizava essa viagem n’Os Lusíadas. Feita por um Capitão diferente do de há quinhentos anos, Pesar O Sol soa também a epopeia. Só que, nesta, a armada não é feita de caravelas.
Há uma bateria a abrir “Nunca Faço Nem Metade” que capta logo a atenção e nos deixa atentos. É uma batida que acrescenta alguma pressão nesse sentido, mas que imediatamente a anula pela atitude relaxada que a canção assume, na melodia e na letra que retrata uma preguiça e um diletantismo tanto de quem a escreve como de quem a ouve. Se há coisa que existe em Pesar O Sol é uma reflexão acompanhada de conselhos. De uns Capitão Fausto que já não são os miúdos de há uns anos, mas sim uma banda matura, com corpo forte, a assumir-se mais uma vez como uma das mais promissoras do país e – podemos arriscar – da Europa.
Sendo um disco que à primeira escuta pode parecer repetitivo e pouco diferente do que se tem feito, à medida que o ouvimos repetidamente as músicas vão-se revelando cada vez mais imprevisíveis, os riffs e frases vão ficando cada vez mais na cabeça e as guitarras vão-se ouvindo cada vez a correr mais rápido.
Se “Litoral” nos traz rock espacial, “Tui” traz sem dúvida à cabeça o nome que é obrigatório mencionar, Tame Impala. Ainda assim, este álbum surpreende por ter tão bem definidas as influências e ainda assim conseguir fazer algo novo (também na linha dos ingleses Toy). E esse novo soa tão bem que “faz ser português”, como nos canta Tomás Wallenstein enquanto os amigos Salvador, Francisco, Domingos e Manuel brincam aos instrumentos de uma forma muito produtiva – e boa.
Depois de desembarcar numa qualquer praia da Costa Vicentina, o Capitão do navio toca pra nós uma melodia que aprendeu nas suas viagens longínquas por terras além da Taprobana. E por terras mais familiares levam-nos depois os Faustos, mostrando uma “Célebre Batalha de Formariz” que já tinha sido apresentada na internet em Junho passado e um conjunto de canções que entrariam no anterior Gazela menos dificilmente que as restantes. A separar esse conjunto está ainda “Maneiras Más”, que é uma colecção de acordes, harmonias vocais e compassos de guitarra, baixo e bateria completamente “fora deste mundo” e que deixam qualquer pessoa boquiaberta, estarrecida, extasiada e até derretida com a doçura e a viagem proporcionada na segunda metade da faixa.
Além de toda a fábula moral que os Capitão Fausto escreveram, o disco é – perdoem-me o lugar comum – uma lufada de ar fresco no panorama musical nacional. São eles os embaixadores do psicadelismo português e a banda que faltava. Do início ao fim, o novo álbum é uma constante viagem, feliz e despreocupada. É uma corrida de guitarradas desenfreadas que prova que para os Capitão Fausto não importa quão grande ou pesado o Sol seja: o Sol é leve.