A voz de Bia Ferreira e seu violão continuam a ecoar em nossos corações. Uma rajada de cultura, como ela bem proclamou.
Na noite de 28 de setembro, a recém aberta Casa Capitão, em Lisboa, recebeu a artista brasileira Bia Ferreira, em mais uma de suas diversas digressões a Portugal. Nos últimos anos, a cantora, compositora e ativista brasileira, tem sido presença assídua em diversos palcos portugueses, desde salas pequenas, a teatros e festivais. A brasileira, referência da música ativista contemporânea, levou ao espaço lisboeta um espetáculo que uniu música, política e afeto num encontro íntimo e poderoso.
O “Sótão” da Casa Capitão, foi o local escolhido para realização do concerto, que favoreceu uma conexão próxima entre artista e público. Acompanhada apenas de seu violão e a sala, de formato black box, afastou o brilho dos grandes palcos para mergulhar os espectadores numa experiência crua e direta, onde cada acorde e cada palavra podiam ser sentidos de perto.
No repertório, clássicos como “Cota Não é Esmola”, “Enquanto Eles Dormem” e “De Dentro do AP” se misturaram com canções inéditas, que devem integrar seus próximos lançamentos. Mesmo sem conhecer as letras novas de antemão, o público se entregou, atento, emocionado e participativo.
Entre uma faixa e outra, Bia falou sobre o Brasil, sobre o colonialismo, o racismo, os corpos dissidentes, o amor como prática política e o poder de resistência que nasce do afeto. Cada fala sua foi como um soco, mas daqueles que acordam, que fazem pensar, que abrem espaço para um outro tipo de silêncio: o da escuta consciente.
A plateia, diversa e visivelmente tocada, respondeu com respeito e entrega. Houve momentos de riso, outros de emoção contida, outros ainda de puro arrepio coletivo. O concerto foi também um espaço seguro, não só físico, mas simbólico, onde as dores puderam existir sem se tornarem espetáculo, e a arte serviu como elo entre pessoas que talvez nem se conhecessem, mas que ali compartilharam algo muito profundo.
Ao final do concerto, Bia agradeceu emocionada e reforçou o poder da arte como ferramenta de transformação. Mais do que cantar, Bia Ferreira conversa, ensina e provoca. Foi ovacionada de pé. Um concerto que não apenas se ouviu: sentiu-se.
Texto e Fotografias: Felipe Kido



















