De meia branca e chinelo, o Corona está de volta, depois da sua passagem pelo “Sheraton dos Queimadinhos“. Recuperado da sua recaída, o portuense decidiu tornar-se um empreendedor e, inspirado por Big Daddy Carlos, abriu um estabelecimento em Cimo de Vila (rua famosa pelas casas da lanterna vermelha). Chamou-lhe Cimo de Vila Velvet Cantina.
É este o mote para o último lançamento de dB e Logos, que neste álbum nos oferecem algumas das suas melhores músicas desde Lo-fi Hipster Sheat. A produção, como sempre, é muito boa, sendo que neste terceiro capítulo da história de Corona ouvimos os instrumentais mais melosos, sensuais e druggy deste duo vindo da capital do Norte. As letras, para condizer com tudo o resto, vão de ex(xx)tra pornográficas a negras e agressivas.
Bem sei que esta rubrica se intitula canção do dia. Mas a música que aqui se ouve é tudo menos do dia — é a banda sonora para aqueles regressos já enevoados a casa, às altas horas da madrugada. A ambiência criada pelos sopros encharcados em reverb e pelo baixo misterioso invoca aquelas ruelas duvidosas e escuras, aqueles becos manhosos que seriam o cenário perfeito para o crime de um policial. Quanto ao rap propriamente dito, alguns dos versos de Kron Silva — como “(…) há uma cortina de fumo que cobre a selva de betão, rebenta com sonhos como bolhas de sabão / é inútil resistir caminhar em contramão (…)” — são de suster a respiração.