Invocados raios e trovoada, acordou-se o Monstro e ele conversou connosco.
Nem foi preciso tempestade. Por vezes, ir ouvir um álbum depois de já se ter visto a banda ao vivo, é como ir ver um filme depois de se ter lido o livro. Como assim? Uma banda que seja boa ao vivo conquista-nos, mesmo que nunca se tenha ouvido uma faixa sua antes. Os bons concertos transportam o som de outra maneira, batem-nos cá dentro como um pulsar de sangue, uma bateria potente dá a descarga elétrica ao corpo e a guitarra, baixo, teclas, voz, fazem o trabalho dos orgãos, até o monstro ficar vivo. E é viva que me sinto quando oiço bons músicos em sala. Independentemente se depois disso vou procurar e ouvir mais, já de phones nos ouvidos.
Um bom concerto acrescenta sempre personalidade ao espírito do que foi feito em estúdio, estão lá os criadores! No sábado passado, quem esteve no Musa presenciou 2 atuações com pouco de anti natura, mas eletrizantes o suficiente para invocar Frank.
Os Madmess abriram a noite em modo psych(o), sem hesitar, num estardalhaço divino de quem bem do nuorte para partir a loiça aos morcões e a quem estiver. “Por favor desliguem a (luz) strobe”, mas dito à boa moda do Porto. Para quem ainda não os conhece, é de lá que o trio origina. Juntaram-se em 2016 e abalaram pouco depois para Londres, onde gravaram o seu primeiro EP de 4 longas faixas instrumentais de rock psicadélico. Em 2021 sai o primeiro álbum Rebirth, com riffs mais estruturados, o mesmo foco no instrumental e diferentes velocidades, para malhar em grupo ou de forma instrospectiva. Este ano há disco novo! The Third Coming sai em Maio e já está disponível para pré-encomenda. Além dos 2 temas recentes “Hazy Morning” e “Velvet Nebula”, que já se podem ouvir online, parte do alinhamento da noite ainda incluiu os novos “Burnt!”, “Death by Astonishment”, “Widowmaker”, e “Endless Cycles”. Para os fãs de Black Sabbath, houve uma cover para fechar a primeira parte. Descargas de boa energia, digo-vos eu.
Tivessem ido.
Seguiu-se o rock alternativo dos Them Flying Monkeys. Com o novo álbum Best Behavior lançado em Janeiro, a setlist não foi surpresa mas, reforço, ao vivo ganhámos tão mais do que de phones. Desde 2015, a banda tem tocado um pouco por todo o Portugal, na Europa e 3 datas nos Estados Unidos este Março. Intensos, as atuações ao vivo são conhecidas por serem vibrantes e encherem o espaço, especialmente agora, com um álbum apelidado de mais industrial e direção eletrónica mais fresca. A evolução do quinteto é validada pela segurança com que apresentam os temas, letras diretas, íntimas, esperneando eloquentemente sobre o atual estado caótico do qual parecemos não sair, “as pessoas estão loucas e os tempos estão confusos”. Uma sonoridade crua, dizem, sem complexos nem preconceitos, nem desculpas.
Em sala, a banda deixou ficar um pouco de tudo isto, do próprio suor. Nem o tamanho do palco nem o da sala (pequenos) os impediram de ali se entregarem, tal como o pouco espaço nunca inibiu os mais aventureiros de circularem em braços. Estamos loucos mas estamos vivos!
Fotografias: Rui Gato














