Enquanto Lisboa sofria as agruras da Depressão Martinho, escondemo-nos no quentinho do Vortex acarinhados pelo vendaval sónico da parelha infernal Funeral Damage e Mugrind.
Apesar, ou talvez, do nome remeter para a voragem, para o turbilhão, para mim, a cave do Vortex tem sido a cave refúgio … o lugar onde limpo a cabeça, onde os males ficam à porta. Bem, provavelmente, “apesar” não será a palavra certa. Mais do que provavelmente, será precisamente por causa dos turbilhões sónicos, dos furacões energéticos e da voragem da adrenalina que a minha mente acalma!
Não me estou a perder, confiem! As nossas fontes do Vortex revelaram-nos que, na sexta passada, os cinco sujeitos que compõem os Funeral Damage (três) e os Mugrind (os outros dois) chegaram às Olaias numa pick up com todo o seu material na respetiva caixa aberta, protegido dos elementos – e da Depressão Martinho – apenas com uma leve tela. “Vinha tudo molhado, amplificadores, inclusivamente”! Se o cenário vos faz temer o pior, sosseguem … ou talvez sossegar não será o termo mais correto! Infelizmente, não pude ver a dita, mas na minha mente, e depois da brutalidade daqueles dois concertos, só consigo imaginar qualquer coisa resultante do cruzamento entre o DeLorean do Regresso ao Futuro, a magnífica máquina da chuva do teledisco de “Cloudbusting” da Kate Bush e uns pozinhos do Mad Max – Versão original, que eu sou quase cinquentão, para o caso de não terem chegado lá pelas referências anteriores!
Os Mugrind são uma dupla de Barcelona. Trazem um baixo e uma bateria e dois vozeirões capazes de derrubar a casa de betão armado do porquinho mais precavido. Um coro grind harmonioso a debitar gore de protesto – que a sociedade vai mostrando cada vez mais podres – acompanhado a distorção e destruição rítmica de primeira qualidade. Devastador … a julgar pela minha paz interior e pela frenética dança mesmo à frente, e em cima do palco!
A atuação dos Funeral Damage demorou um pouco a arrancar! Não, o material não parece ter sido afetado pela intempérie … terá sido talvez excesso de zelo do técnico de som a querer que tudo estivesse perfeito … até que o guitarrista impôs a sua forte figura num aparentemente rude “Leave us alone, We know what we’re doing”! E, raios, que eles sabem mesmo! Se os Mugrind devastaram, o trio vindo de Berlim arrasou! Não se costuma dançar slows nesta cave, mas nunca me tinha deleitado com tamanha violência! Metal, Crust e Punk em doses massivas e misturados no acelerador de partículas do CERN a servir de base para um ataque vocal duplo … em castelhano, polaco e inglês, a demonstrar que as fornteiras pouco importam na luta pela liberdade. O LP Muerte está quase quase a sair … mas nós tivemos a sorte de ouvir como ele resulta melhor … ali, em cima do palco, à frente de um turbilhão de pernas e braços!
Fotografias de Rui Gato


















