Neste Dia Internacional da Mulher, destacamos 22 instrumentistas que, com talento e audácia, ajudaram a moldar o som de bandas e brilharam nos seus projetos a solo.
Se o mundo da música ainda é maioritariamente dominado por homens – como se pode ver pelos cartazes dos grandes festivais –, as mulheres do Altamont escolheram outras mulheres que desafiaram estereótipos e conquistaram o seu espaço. Neste especial, focamo-nos nas instrumentistas que ficam longe dos holofotes, seja na guitarra, bateria, baixo ou outros instrumentos. Do pop ao punk, mostramos que a cena musical não se constrói apenas com vozes, mas também com mãos que criam ritmos, melodias e atmosferas únicas.
Catarina “Katari” Da Silva Henriques: A Batida Indomável do Punk Rock Português
Destacar Catarina Henriques, aka Katari, apenas como a baterista de The Legendary Tigerman seria extremamente redutor. Uma das mais emblemáticas bateristas da cena musical portuguesa, tem também um papel de destaque nas Anarchicks, uma das bandas mais icónicas do punk rock feminino em Portugal. Em palco, é uma verdadeira força da natureza. A propósito deste especial, entrevistámos Katari, cuja energia e percurso sólido demonstram a importância e a resiliência das mulheres que fazem da música o seu ofício. (Ler Aqui)
Cláudia Guerreiro: O Baixo e a Arte na Identidade dos Linda Martini
Cláudia Guerreiro é baixista dos Linda Martini, uma das bandas mais marcantes da cena alternativa nacional. O seu baixo é peça central no som do grupo, que desde 2003 explora o indie e post-rock com energia intensa. Para além da música, tem um papel essencial na identidade visual da banda, assinando capas de discos e outros materiais gráficos. O seu traço expressivo já deu vida a vários projetos, consolidando a sua presença no mundo da arte. Entre o som e a imagem, encontramos a força e o talento de Cláudia Guerreiro.
Elisabeth Cotten: A Lenda do “Cotten Picking” e o Renascimento no Folk
Foi à boleia de “Freight Train” que cheguei, pela primeira vez, ao dedilhar de Elizabeth Cotten. Uma voz rouca, mas cândida, acompanhada de uma igualmente doce guitarra que me prendera instantaneamente. A notável guitarrista e cantautora nascida em 1893, no estado de Carolina do Norte, tornara-se conhecida pela sua forma peculiar e única de tocar, que aprendera sozinha em criança, ao colocar uma guitarra do lado contrário (Cotten era canhota), e que se tornaria conhecida como “Cotten picking”. Ainda durante a infância e adolescência, compôs um vasto leque de canções, mas devido a pressões religiosas, ao trabalho doméstico a que se teve de dedicar ainda na adolescência e ao casamento precoce, Cotten foi forçada a abandonar a música. Seria o acaso, ou a sorte (como lhe quiserem chamar), a levar com que o seu caminho se cruzasse com a família Seeger, um dos nomes mais indissociáveis da história do Folk nos Estados Unidos, para quem acabaria por trabalhar como empregada doméstica. O resto é história: depois de se aperceber do impressionante talento de Cotten, Mike Seeger gravaria a então sexagenária a interpretar as suas canções que dariam origem ao histórico “Folksongs And Instrumentals With Guitar”, em 1958. Não saberemos nunca se Cotten se teria mantido sob o manto pesado da invisibilidade caso não tivesse ido parar à casa Seeger, mas a história daqueles anos de segregação e das dificuldades que as poucas compositoras e intérpretes da comunidade afro americana enfrentaram ensina-nos a pensar que provavelmente sim. Mas, felizmente para nós, Elizabeth Cotten foi resgatada e levada para a esfera pública e, a partir dos anos 60, a artista voltou a tocar e a compor, marcando presença assídua nos principais festivais de Folk, dedicando-se a tempo inteiro à sua música até ao final da sua vida. Só nos resta agradecer-lhe o tanto que ela nos trouxe.
Gail Ann Dorsey: A Baixista Que Redefiniu O Som De David Bowie Ao Vivo
Gail Ann Dorsey é uma das baixistas mais completas da sua geração. Reconhecemos isso principalmente pela forma como partilhou palco com David Bowie, nas últimas duas décadas da sua carreira ao vivo. Gail foi uma das figuras centrais na banda do músico, ora na forma como redimensionava o som ao vivo de Bowie, ora transformando clássicos como Under Pressure, assumindo as partes de Freddie Mercury, esplêndida. A química com Bowie era notória e o respeito mútuo que existia entre ambos é claro, quando nos apercebemos da importância de Dorsey na sua última fase criativa. Mas a carreira de Dorsey vai muito além dos palcos com Bowie. Chegou a colaborar com nomes como Lenny Kravitz, Tears for Fears e The National, para além de ter lançado os seus próprios projetos a solo. A sua capacidade de transitar entre géneros, do funk ao jazz, do rock ao pop, e de dar uma nova vida a cada composição, estabelece Dorsey como uma das mais versáteis e respeitadas figuras femininas da música contemporânea. A sua importância não se resume ao número de colaborações ou à sua habilidade instrumental – Gail Ann Dorsey trouxe uma nova linguagem ao baixo e à forma como as mulheres podem ser vistas e ouvidas na música. A sua jornada deve ser um exemplo para as futuras gerações de artistas.
Georgia Hubley: A Batida Suave no Coração dos Yo La Tengo
Embora partilhe com Ira Kaplan (com quem é casada e com quem fundou a banda) a função de vocalista dos Yo La Tengo, Georgia Hubley não deixa de ser a baterista (uma posição pouco associada a mulheres) numa banda masculina que nasceu numa altura em que o indie rock era ainda mais dominado por homens. Com a sua voz etérea, Georgia Hubley é a luz no meio das guitarras ruidosas e experimentais de yo la tengo, sendo ao mesmo tempo uma presença bem marcada, mas perfeitamente fundida com a sonoridade da banda.
Inóspita: A Guitarra de Inês Matos que Desafia Limites
Inóspita é o projeto a solo de Inês Matos, que se tem afirmado no panorama da guitarra. Já editou dois álbuns: Porto Santo (2023) e E nós, Inóspita? (2024). Inês toca guitarra desde cedo, tendo estudado na Academia de Guitarra e na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas, do Hot Clube de Portugal. Desde a adolescência que faz parte de bandas, integrando projetos como Chinaskee, João Borsch e, mais recentemente, as Anarchicks. Com a sua Telecaster, uma coleção de pedais e ainda alguns segredos por descobrir, Inóspita segue a sua jornada desafiando os limites do seu som.
Karen Carpenter: A Baterista com a Voz que Encantou Gerações
Karen Anne Carpenter foi uma cantora e baterista norte-americana que, ao lado do seu irmão Richard, formou os Carpenters, uma das duplas mais marcantes da música dos anos 70. Embora seja amplamente reconhecida pela sua voz única, Karen sempre se considerou, acima de tudo, uma baterista que canta. Apesar de ter vivido uma vida curta, Karen deixou um legado de algumas das canções mais emblemáticas da época, como “Close to You”, “We’ve Only Just Begun”, “Rainy Days and Mondays” e “Superstar” – esta última, uma das minhas favoritas. Além do seu trabalho com os Carpenters, Karen também explorou o seu lado solo, lançando o single “Looking for Love” / “I’ll Be Yours” em 1967 e, anos mais tarde, gravando um álbum homónimo com o produtor Phil Ramone. Este disco, Karen Carpenter, só seria lançado em 1996, muitos anos após a sua morte precoce, em 1983. O seu talento para a bateria nunca será esquecido, e, para mim, a sua imagem de marca será sempre a sua performance, no Your All American College Show, em 1968, onde combinava uma delicadeza única com uma energia fascinante.
Kathi Wilcox: A Baixista Discreta que Marcou o Punk Feminista
Quando se fala no punk é impossível escapar à importância que as Bikini Kill trouxeram ao movimento, em particular à origem das Riot Grrrl. Pioneiras da cena punk underground feminista, apareceram no início dos 90, e abordava assuntos que o punk raramente falava: feminismo, críticas ao patriarcado, cultura da misoginia, raiva e rebeldia (feminina). Kathi Wilcox é baixista e um dos membros fundadores das Bikini Kill. Já tocou em várias bandas como The Frumpies, The Casual Dots e The Julie Ruin, para além de estar envolvida em vários projetos como ativista. É um ícone da cena punk feminista, ainda que discreta.
Kim Deal: A Baixista e Voz que Definiu o Som do Rock Alternativo
Kim Deal é uma baixista, vocalista e compositora norte-americana, mais conhecida por seu trabalho nas bandas Pixies e The Breeders. Nos Pixies, uma das mais relevantes bandas do rock alternativo dos anos 80 e 90, Kim tocava baixo e fazia as backups vocals. Tornou-se baixista dos Pixies por acaso: embora o seu instrumento de eleição seja a guitarra, respondeu a um anúncio no jornal em que procuravam um baixista. Foi a única, ficou, e usava o baixo da sua irmã nos ensaios. Essencial para o som muito característico da banda, sobretudo em discos como Doolittle (1989) e Surfer Rosa (1988), acabou por deixar o grupo em 2013, para se dedicar ao seu projeto paralelo, os The Breeders, outra banda icónica dos anos 90, onde é vocalista – e também lançando uma série de projetos a solo. Debateu-se com a dependência de drogas e esteve em reabilitação, reinventando-se no processo. Kim Deal é um dos nomes mais respeitados do rock alternativo, grunge e indie, servindo de inspiração a muitas novas bandas.
Kim Gordon: A Gigante Do Rock Alternativo
Kim Gordon é um dos nomes incontornáveis da música alternativa e uma inspiração para muitas artistas contemporâneas. Instrumentista, cantora, escritoria e artista visual, é mais conhecida por ter sido a baixista e vocalista da banda de rock alternativo Sonic Youth. É uma das figuras mais influentes da cena musical underground e indie rock, especialmente nos anos 80 e 90. O seu estilo musical e a sua atitude vanguardista fizeram dela um ícone feminista e uma referência na cultura alternativa. Mesmo depois do fim dos Sonic Youth, em 2011, continuou ativa na música com projetos como Body/Head e na sua carreira a solo. O seu estilo musical oscila entre o minimalismo, a distorção e um Groove cru. As linhas de baixo simples e hipnóticas, o uso criativo da distorção, com o efeito dos pedais, a voz intensa e a atitude alternativa tornaram-na um ícone. Além da sua carreira musical, Kim Gordon também se destacou nas artes visuais e na moda. Publicou o livro de memórias “Girl in a Band” (2015), onde partilhou a sua trajetória pessoal e profissional, incluindo a sua relação com o ex-marido e colega de banda Thurston Moore.
Luísa Amaro: A Primeira Mulher da Guitarra Portuguesa
Luísa Amaro foi a primeira mulher a tocar profissionalmente guitarra portuguesa, assim como a compor e a gravar. Companheira de Carlos Paredes, desafiou sempre quem a queria pôr na sua sombra, procurando ir além dos repertórios tradicionais. Estudou Guitarra Clássica no Conservatório Nacional de Lisboa e em Barcelona, depois de abandonar a licenciatura em Direito, e começou a acompanhar Carlos Paredes em guitarra clássica nos seus concertos. Foi em 1996 que passou a dedicar-se à guitarra portuguesa enquanto compositora, explorando formas inovadoras e ritmos diferentes.
Marta Pereira da Costa: A Guitarrista Portuguesa que Quebrou Barreiras no Fado
Se há uma área da música dominada pelos homens, é a da guitarra no fado. Marta Pereira da Costa é uma das raras exceções, sendo uma das poucas mulheres a dedicar-se profissionalmente à guitarra portuguesa. Ao longo da sua carreira, colaborou com diversos artistas nacionais e internacionais, mas foi com o seu álbum homónimo, lançado em 2016, que afirmou o seu talento e abriu caminho para uma maior projeção além-fronteiras, ainda há pouco tempo participou nos Tiny Desk Concerts. Com atuações em vários países, Marta Pereira da Costa tem sido uma verdadeira embaixadora da cultura portuguesa. O seu trabalho continua a valorizar a guitarra portuguesa, explorando a sua versatilidade e riqueza melódica. Ver Marta Pereira da Costa a conquistar visibilidade internacional num mundo dominado por homens deixa-nos um sorriso no rosto.
Maureen Tucker: A Baterista Singular Dos The Velvet Underground
Maureen (Moe) Tucker foi sempre a figura mais discreta e introvertida dos The Velvet Underground. Com apenas 20 anos, tornou-se a baterista de uma das bandas favoritas de Andy Warhol, trazendo, desde esse início, uma abordagem muito singular ao instrumento. A sua forma despojada e minimalista de tocar bateria conferiu uma atmosfera distinta ao som simples, mas poderoso, dos Velvet. Joe Harvard descreve Moe como uma “baterista instintiva” e “pouco convencional”, mas também como uma das principais responsáveis pelo som singular que definia a banda. Embora reservada, Maureen também brilhou à frente do palco, assumindo as interpretações de “After Hours” e “I’m Sticking with You” em vez de Lou Reed, estabelecendo muitas vezes uma ligação profunda com o público. Após o fim dos The Velvet Underground, Maureen continuou a sua carreira a solo e em colaborações, mantendo-se fiel à sua estética singular. Moe mostrou ao mundo que a força de uma banda não reside apenas na complexidade técnica, mas na coragem tímida de ser diferente.
Meg White: A Bateria Minimalista que Definiu os White Stripes
Meg White é uma baterista norte-americana, conhecida principalmente pelo seu trabalho na banda The White Stripes, ao lado do ex-marido Jack White. Ficou famosa (e foi também muito criticada) devido ao seu estilo de bateria simples, minimalista e marcante, o que ajudou a definir a identidade da banda.” Com os White Stripes vgenceu um Brit Award e seis Grammys. Em 2015, a revista “Rolling Stone” incluiu-a na lista dos “100 maiores bateristas de todos os tempos”. A banda separou-se oficialmente em 2011, e desde então Meg White, que sempre disse que era “muito tímida”, tem mantido uma vida bastante reservada, com muito poucas aparições públicas.
Melissa Auf der Maur: A Baixista que Conquistou o Mundo do Rock
Melissa Auf der Maur era uma daquelas mulheres que eu via na MTV e me deixava fascinada—de baixo na mão, com os seus longos cabelos ruivos. Talvez não fosse exatamente uma heroína para mim, mas andava lá perto. Melissa Auf der Maur começou a ganhar destaque nos anos 90, quando substituiu Kristen Pfaff no baixo das Hole, juntando-se à banda na era do icónico Celebrity Skin (1998). Mais tarde, integrou os The Smashing Pumpkins na sua tour de despedida, em 2000. Seguiu depois uma carreira a solo, lançando Auf der Maur (2004) e Out of Our Minds (2010), este último um projeto conceptual que uniu música, cinema e banda desenhada. Além da música, é também uma fotógrafa talentosa, tendo participado em diversas exposições e projetos visuais. Nos últimos anos, afastou-se da ribalta musical para se dedicar a outros projetos artísticos e à vida familiar. Ainda assim, aposto que continua a ser uma daquelas mulheres dignas de admiração.
Paz Lenchantin: A Baixista que Deixou a sua Marca no Rock Alternativo
Paz Lenchantin é baixista, instrumentista e vocalista. Nasceu na Argentina, mas mudou-se para Los Angeles aos quatro anos. O pai era pianista e deu aulas em várias universidades da América Latina e dos EUA e, por isso, Paz começou cedo na música: aos cinco já tocava piano; aos oito teve aulas de violino e aos 12 aprendeu sozinha a tocar guitarra. Contudo, foi no baixo que se destacou. Em 2000 integrou os A Perfect Circle, um dos projetos paralelos de Maynard James Keenan, o vocalista e mentor dos Tool. Participou em dois álbuns – Mer de Noms e Thirteenth Step – saindo em 2003 para tocar numa outra banda parelela: Os Zwan, de Billy Corgan (Smashing Pumpkins). Também aqui permaneceu pouco tempo – até porque a banda durou pouco tempo – e passou os dez anos seguintes a colaborar com várias bandas, no baixo e nos instrumentos de corda. Foi então que, no final de 2013 foi escolhida para substituir Kim Deal nos Pixies. Começou por ser apenas durante a digressão de 2014, mas em 2016 passou a elemento oficial da banda, da qual saiu o ano passado.
Poison Ivy: A Guitarrista que Fez História no Punk e Psychobilly
Poison Ivy (Kristy Wallace) é co-fundadora e guitarrista icónica dos The Cramps. De estilo inconfundível, rainha do psychobilly e punk rock, Ivy criou com Lux Interior (com quem viveu até à morte deste em 2009), uma das bandas que mais influenciou o mundo do rock, com malhas importantes como “Human Fly”, “Can Your Pussy do the Dog” e “Bikini Girls with Machine Guns”. Ivy continua a ser uma referência muito importante de uma mulher que conseguiu destacar-se na cena (ainda) muito machista do rock’n’roll, sempre com uma garra e ferocidades incomparáveis.
Régine Chassagne: O Mulherão Dos Arcade Fire
Quando se fala nos Arcade Fire, é impossível ignorar Régine Chassagne. Multi-instrumentista, compositora e cofundadora da banda, não é apenas a parceira musical (e de vida) de Win Butler – é uma força criativa essencial, cuja energia, carisma e visão artística definem o ADN do grupo. Mestiça francófona, nascida em Montreal e filha de haitianos, Chassagne fez da sua herança cultural um dos pilares identitários dos Arcade Fire. Foi ela quem trouxe a forte ligação da banda ao Haiti, evidenciada na canção “Haiti” (Funeral, 2004) e aprofundada em Reflektor (2013), onde os ritmos haitianos se infiltram na sonoridade do disco. Fora da música, esse compromisso estende-se à fundação KANPE, que criou para apoiar comunidades haitianas em situação de vulnerabilidade. Mas é ao vivo que a sua presença se torna impossível de ignorar. Entre acordeão, bateria, piano, xilofone, teclados e até o peculiar hurdy-gurdy, Chassagne move-se pelo palco com uma teatralidade contagiante. Em “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, assume o protagonismo absoluto e transforma o concerto numa celebração coletiva. Régine não é uma peça secundária nem um mero complemento – Régine é essencial para aquilo que os Arcade Fire são. Sem ela, a banda perderia muito mais do que um instrumento ou uma voz. Perderia alma.
Tina Weymouth: A Baixista que Deu Groove ao New Wave
Nascida na Califórnia em 1950, Tina Weymouth é cantora, compositora e baixista, carreira que seguiu mais ou menos por acaso. Conhecida sobretudo por ser uma das membros fundadoras dos Talking Heads, foi reconhecida, em 2020, pela Rolling Stone como a 29ª melhor baixista de todos os tempos. Foi na faculdade que conheceu David Byrne e Chris Frantz, seu futuro marido, começando por acompanhar os amigos nas lides da banda que estes formavam, os Artistics. Já em Nova Iorque, para onde depois se mudaram os três, Weymouth aceitou o desafio de Frantz de aprender a tocar baixo para se juntar a eles, depois de uma procura sem sucesso de um baixista. Nasciam assim os Talking Heads, pioneiros do new wave. Tina Weymouth passou de tentar aprender a tocar baixo para ajudar a banda do namorado, para ser a autora de algumas das linhas sonoras mais características dos Talking Heads e, mais tarde, dos Tom Tom Club, numa época em que estas posições eram ocupadas por ainda menos mulheres do que hoje.
Viola Smith: A Primeira Grande Baterista da História
Provavelmente desconhecida de todos nós, é considerada em vários sites e revistas como a primeira mulher baterista profissional. Nascida em 1912 e com uma longa vida dedicada à música (viveu até 2020), tocou sobretudo em orquestras, bandas de swing dos anos 20 até 1975. Também tocou em dois filmes e no musical da Broadway Cabaret. A escolha da bateria foi por acaso: o pai idealizou uma banda só de mulheres (ela tinha sete irmãs e dois irmãos) e quando chegou a vez dela, a sexta filha, só a bateria sobrava. Teve várias bandas na década de 40, sobretudo durante a Segunda Guerra mundial, e fez carreira em Nova Iorque, chegando a tocar com Ella Fitzgerald e ganhando a alcunha de “baterista feminina mais rápida”. Morreu em 2020, aos 107 anos, e os rumores indicam que até muito perto da sua morte ainda tocava com bandas locais.
Viv Albertine: A Guitarra Rebelde do Pós-Punk
Mais conhecida por ser a guitarrista da banda pós-punk The Slits, Viv Albertine descreve-se a si própria como “Pippi Longstocking meets Barbarella meets juvenile delinquent”. Esteve mergulhada na cena punk da década de 70, tendo namorado com Mick Jones (The Clash), sido amiga de Vivienne Westwood, feito parte da banda punk The Flowers of Romance com Sid Vicious (Sex Pistols) e privado com muitos nomes importantes da época como os King Crimson. Nasceu em 1954 em Sydney, mas foi em Londres que cresceu e estudou moda e design têxtil, enquanto entrava na cena musical que a circundava, de forma efervescente. Inspirada por nomes como John Lennon e Yoko Ono, The Kinks e Patti Smith, comprou a sua primeira guitarra eléctrica aos 21 anos e juntou-se às The Slits após a saída de Kate Korus. Em 1982, o grupo acabou e Albertine afastou-se da música, dedicando-se a uma carreira no cinema, mas, em 2012, lançou o seu único álbum a solo, The Vermilion Border.
Zurita de Oliveira: A Mãe do Rock Português
Não podíamos falar de mulheres instrumentistas sem mencionar Zurita de Oliveira. Embora também cantasse, encaixa na perfeição no grupo das pioneiras da guitarra. Foi uma das primeiras mulheres a fazer rock em Portugal, sendo frequentemente apelidada de “mãe do rock português”. Nos anos 50 e 60, o papel da mulher raramente passava por empunhar uma guitarra elétrica e fazer solos de rock, mas Zurita quebrou essa norma. Em 1960, gravou “O Bonitão do Rock”, uma das primeiras canções de rock escritas e interpretadas por uma mulher no país. Apesar da sua influência marcante na música portuguesa, o reconhecimento foi escasso e os arquivos da sua obra são praticamente inexistentes. Felizmente, está em curso um documentário que pretende resgatá-la do apagão da história. Quem Tem Medo de Zurita de Oliveira? é o título do filme que a realizadora Francisca Marvão está atualmente a desenvolver. Zurita faleceu em 2015, mas o seu legado merece ser redescoberto. Num mundo da música ainda dominado por homens, há sempre lugar para uma mulher revolucionária.
Honrando a memória das pioneiras e levando nos ombros as suas contemporâneas, estas 22 mulheres foram escolhidas pelas mulheres do Altamont para destacar uma data tão importante, que, infelizmente, continua a ser necessária.
Textos: Ana Baptista, Ana Catarina Tiago, Ana Lúcia Tiago, Cátia Simões, Mafalda Piteira de Barros, Marcela Janeiro Pereira, Margarida Moita dos Santos, Patrícia Cuan || Montagem: Patrícia Cuan