
O dia 31 de Outubro prometia uma oferta vasta no Musicbox – 3 bandas e 2 DJ’s faziam parte do alinhamento de sexta-feira do Jameson Urban Routes. Foram sobretudo as bandas a reter-me a atenção.
Começaram os portugueses Glockenwise, banda de garage-rock de Barcelos que se não fosse lusa teria muito provavelmente nascido em São Francisco. Entre temas já lançados e um tema inédito («vamos ver se aprovam»), o que ouvi foi a juventude fascinante dos Glockenwise (suficientemente novas para frisarem a existência dos CD’s que se vendiam à entrada, importantes para os «ajudar a pagar as propinas»). E esta juventude, musicalmente, é feita de matéria rock e nervo punk açucarado, com a intensidade sónica a ser mestre-de-cerimónias desta maravilhosa festa. O próximo disco promete, vindo de uma banda que já alcançou um lugar de relevo na música portuguesa; e talvez pela atmosfera de consagração num palco como o Musicbox, em pleno 2014, o concerto tenha sido especial também para a banda; já que o público, esse, pareceu amplamente satisfeito.
A segunda banda a tocar foi os dinamarqueses Lower. Com o primeiro LP lançado este ano “Seek Warmer Climes”, pela mão da prestigiada Matador –, a actuação foi um contraponto ao que tínhamos visto dos Glockenwise: o que antes havia sido festa rock fervilhante passava agora a tornar-se atmosfera densa, escura como breu, com frases cortantes gritadas pelo vocalista Adrian Toubro. Reservados e distantes na relação com o púbico, os Lower pareciam cantar todos os pecados e todas as dores do Mundo – ou pelo menos da Dinamarca-, oferecendo com a sua música repetidos socos no estômago do público, que deixava os headbangs e a dança de lado para assumir agora semblantes soturnos e fechados, no que era uma resposta coerente à tensão e à crueza da música dos Lower. Interessante a secção rítmica, sobretudo pela competência do guitarrista da banda, Simon Formann, e do baixista, Kristian Emdal.
Seguiu-se Strand of Oaks. Do projecto sobretudo o disco HEAL, lançado este ano, que achei interessante (embora algo disperso). O concerto, porém, foi outro nível. O som do disco é bom, mas talvez (o que é uma opinião discutível) um pouco polido em demasia. Timothy Showalter, mentor do projecto, que se fez acompanhar pela habitual formação ao vivo, ia frisando que estavam pela primeira vez em Portugal, «and we’re fuckin lovin’ it». Ainda antes de saber que T.S. actualmente residia em Filadélfia o som fazia-me em momentos muito particulares lembrar os conterrâneos War on Drugs, tanto pelos incríveis (o adjectivo não é exagerado) solos de guitarra como pela melodia semi-foleira (muitas vezes em bom, noutras em mau) de alguns momentos, inspirado pelo rock americano clássico. Nem sempre mantendo o nível alto, é verdade (há canções mais dançáveis e algo etéreas, claramente de menor qualidade), o concerto foi ainda assim muito bom; e só os solos de guitarra de canções como “JM” (homenagem a Jason Molina, referiu Timothy Showalter) e ”Goshen ‘97” (homenagem a J. Mascis, guitarrista e vocalista dos muito influentes Dinosaur Jr.) valeriam pelo concerto inteiro.
Não houve, nesta noite do Jameson Urban Routes, um cabeça de cartaz evidente – ou, pelo menos, tão evidente quanto o foram os Future Islands na noite de 23 de Outubro -. O que houve foi uma oferta vasta numa só noite, com três bandas emergentes de qualidade a proporcionarem bons concertos. Da festa garage dos Glockenwise à densidade tensa dos Lower e ao rock melódico dos Strand of Oaks houve tempo e espaço para tudo.
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Fotos gentilmente cedidas por Alípio Padilha
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