Há que esclarecer que os Mogwai não são cá meninos. Já andam há muitos anos nisto; mais precisamente, foi no ano de 1997 que se estrearam no cenário post-rock escocês, com o álbum Young Team. O álbum de estreia de Stuart Braithwaite, John Cummings, Barry Burns, Dominic Aitchison e Martin Bulloch ainda é hoje aclamado como o melhor trabalho da banda, temperado com uma mão-cheia de harmonias que jorram com uma fluidez sem esforço. A bateria imponente, as guitarras sobretudo coléricas, o baixo que troteia ao lado das melodias todas elas a rebentar de uma pujança que nem sempre parece captar-nos da forma mais óbvia, mas que encontram outra forma de se entranhar cá dentro (pelo menos, a maior parte das vezes). Será que muito mudou para os Mogwai, volvidos quase duas décadas e oito álbuns de originais?
Não mudaram, mas cresceram (ou não, dependendo da perspectiva). Principalmente porque o mundo cresceu com eles, e acabaram por se ver puxados pela sua evolução. Apesar de terem sido uma das bandas originárias da tendência post-punk instrumental, assente na vocalidade dos intrumentos e numa misteriosa pujança dramática manejada através das potentes melodias, os Mogwai nunca hesitaram em tentar meter os pés para fora da confinidade muito restrita do seu género; ao longo dos anos e dos álbuns, têm timidamente ensaiado alguma tentativa de variação da fórmula original. Sem nunca a perder de vista. As guitarras continuam a ressoar com a mesma força, a bateria não parou de se fazer soar. No entanto, têm vindo a conter algum do dramatismo exacerbado que se via reinar nos primórdios do seu trabalho, sendo substituído com uma subtileza pacífica que só se ganha com a idade. E a conversa sonora fez conhecer um novo membro; o sintetizador, que fala sobretudo alto em faixas como “The Lord Is Out Of Control” ou “Deesh”.
Apesar de tudo, o crescimento dos Mogwai, se bem que consistente, não desembrulha grandes surpresas. Continuam algures entre o explosivo e o sereno, entre o histérico e o calmo. Parecem encontrar um género de equilíbrio entre dois hemisférios que deixa uma comichão por coçar. Um género de mutação entre Sigur Rós e Fuzz, por muito disparatado que soe, é a melhor classificação que consigo dar ao seu som. Não é tão mau como soa a descrição, e para o provar há faixas como a melancólica e doce “Blues Hour”, curiosamente a única faixa cantada em todo o disco, que, seja por isso ou não, confere alguma consistência a um álbum que parece perdido algures. E mesmo não sendo um disco de captação imediata, como todos os outros trabalhos da banda, a verdade é que múltiplas audições tornarão a ambiguidade e repetição suportável e talvez até interessante.
Resta dizer que ainda bem que os Mogwai não falam, porque não têm muito a dizer. Ou já gastaram as palavras todas em 2014. Resta ver quem terá paciência para ouvir o silêncio que lhes escorre pelos beiços.