E ao sexto álbum Laura Marling reinventa-se outra vez. Semper Femina esteve tatuado na pele da artista nos últimos anos – roubado da Eneida, de Virgílio – e agora Marling dá-lhe corpo, nome, um disco inteiro, cheio de nove soberbas canções.
Entre a sensualidade (logo a abrir, com “Soothing”, quatro minutos de sedução lenta e de composição densa), a paixão mas também a vulnerabilidade em “The Valley” ou o tom confessional de “Always This Way”.
Marling reinventou-se, no tom, nas letras, e até na produção, numa colaboração com Blake Mills (Alabama Shakes), que torna este disco mais denso, completo e adulto, como se a menina-mulher de 21 anos do primeiro disco (Alas, I Cannot Swim) tivesse desaparecido de vez para dar lugar a uma Marling mas adulta, mais completa, mas também mais perturbada.
É mesmo uma nova fase, de composição e produção, ajudada, claro, pela maior densidade conferida pela parceria com Mills, mas mantendo a característica indie-folk e a simplicidade. Aqui a simplicidade é mais cuidada, apurada ao pormenor, a produção densifica até ao ponto máximo em que continua a ser Marling.
Um disco absolutamente feminino mas sem fragilidade. Forte sem ser feminista, quase fatalista nas letras, de amor e de amizade, podemos escolher por onde queremos interpretar.
Há uma tristeza maior neste disco, mais profunda do que em Once I Was an Eagle, e também mais abertura e exposição, como ouvimos em “Don’t Pass Me By”. E a acompanhar as letras mais densas há uma composição mais cuidada e uma guitarra soberba “Next Time” é o melhor exemplo. A fechar o disco, Marling brinda-nos com “Nothing, Not Nearly”, com uma guitarra deliciosa e um tom de conclusão. Para ouvir e saborear, da guitarra às letras.