I Love You Jennifer B é sobre fazer ao contrário, mas fazê-lo bem e com a intenção de provar que, ao contrário, é igualmente possível e válido.
O duo Georgia Ellery e Taylor Skye nasceu nos corredores da Guildhall School of Music and Drama e de uma vontade firme de subverter os cânones que por lá se aprendiam. Em 2018, os Jockstrap deram ao mundo um cheirinho do que prometiam vir a ser, com o lançamento do seu primeiro EP Love Is the Key to the City, imprevisível e novo – ao ponto de, no espaço de um minuto e meio, em “Wet”, passarmos de ouvir um chuveiro para um instrumental de orquestra e a faixa seguinte, “I Want Another Affair”, parecer uma bossa nova glitchy, com possíveis inspirações nos jogos do Super Mario. Uma pandemia e dois álbuns de Black Country, New Road depois (porque Georgia não se contenta com fazer parte de apenas uma banda avant-garde dos anos ’20 e é violinista nos BCNR, enquanto faz os vocals de ambos os grupos), Jockstrap entregaram-nos o seu primeiro álbum, I Love You Jennifer B.
Pegar numa música simples e fazer um drop imprevisível é comum em EDM, mas os Jockstrap marcam bem a sua chegada com uma distorção trashy sobre a guitarra que já acompanhava a voz amigável de Georgia, em “Neon”. Os samples de “Jennifer B” não condizem muito com as cordas de “What’s It All About?”, e tampouco com as dores de coração que esta música relata. Da mesma forma, a letra de “Angst” é profundamente pessoal, ao falar abertamente da ansiedade da vocalista – o que contrasta com a indeterminação das letras de outras faixas. Sem olhar a regras nenhumas, a intro de “Concrete Over Water” é tocada de trás para a frente, mas “Glasgow” é simplesmente pop, com os acrescentos, recorrentes ao longo do álbum, de harpa e violinos.
Ainda que haja elementos comuns que unam a sonoridade de todo o disco, como a utilização frequente de loops, sintetizadores, e eletrónica glitchy, todas as faixas soam de forma diferente, quase como se cada uma fosse uma experimentação com um estilo e género musical distinto. Numa entrevista, Taylor referiu-se ao trabalho da lendária Joni Mitchell como “música sobre a qual não se fala muito, só se ouve” e é precisamente essa a descrição que se pode fazer das suas próprias composições, ainda que, claro, com outro teor. A banda funde todas as inspirações que lhe chegam e constrói uma sonoridade inovadora, com uma assinatura muito própria, primando jogos de texturas ricos. Aliando a produção eletrónica de Taylor ao violino e à voz angelical de Georgia, compõe músicas complexas, que, sendo já muito diversificadas dentro da própria duração, se ligam umas às outras pela imprevisibilidade e pela criatividade que as potencia.
Enquanto o comum dos mortais usava o tempo livre em excesso dos confinamentos para aprimorar novos hobbies, como aprender a tricotar ou preencher livros para colorir, os Jockstrap fizeram um álbum, quase exclusivamente sozinhos, no quarto de Taylor. I Love You Jennifer B levou três anos a ficar concluído e, o que lhe falta em coesão, ganha em diversidade – e diversificação – sonora. O concerto que deram no Primavera Sound Porto prova isto mesmo: o par quer ser distorcido, tanto na música que faz quanto no espetáculo que provoca e na forma como se apresenta publicamente. É sobre fazer ao contrário, mas fazê-lo bem e com a intenção de provar que, ao contrário, é igualmente possível e válido. Os Jockstrap são a novidade de que precisávamos desesperadamente.