Ora bem, é chegada a minha vez de me debruçar sobre a banda destaque do mês, os Doors. Escolhi propositadamente uma espécie de patinho feio da sua carreira (mas mesmo assim melhorzinho que o Soft Parade) por dois motivos: primeiro – o meu preferido, L.A. Woman (e para mostrar o quão preferido é basta dizer que é um dos vinis na minha extensa colecção de dois) já tinha sido alvo de análise por estas bandas; segundo – tenho uma estória como é que hei-de dizer, rejuvenescedora (ou gira, marcante, engraçada, bem leiam e chamem-lhe o que quiserem) sobre ele. E vou passar logo à estória em si, porque hoje especialmente não me apetece encher o artigo de chouriços que qualquer um de vós pode encontrar noutros lados, por essa internet fora.
Corria o ano de 1993 e os Doors transformaram-se numa das minhas bandas de topo (continuam a ser. E tenho até uma cena que eu próprio inventei em que quando me perguntam Beatles ou Rolling Stones respondo são os dois muito bons mas eu gosto mesmo é dos Doors. copyright nesta merda) no momento em que vi em casa de uns vizinhos um VHS da irmã mais velha chamado Live at the Holywood Bowl. Aquilo foi um tremendo choque para um rapaz de 14 anos, imberbe, despreparado e, realço, numa altura que não havia cá internet (quanto mais youtube) para se descobrir tudo e mais alguma coisa. Tornei-me fã. Cada vez mais. Comprei uma t-shirt que usava com elevada frequência.
Corria o ano de 1995. Verão, como sempre passado em Lagos, noite após noite de barzinho em barzinho, acabando sempre no Lionheart, o que tinha a melhor música e só fechava às 4. Numa dessas noites fui com a minha t-shirt dos Doors e não é que uma rapariga da mesa ao lado, do Porto, meteu conversa comigo? Gostas de Doors? São a minha banda preferida. A minha também. Deu conversa para o resto da noite. Mas a coisa não podia, não merecia ficar por ali, e no dia seguinte combinámos de nos encontrar novamente. Depois de jantar fui a casa onde ela estava com uns amigos, a passar férias, malta porreira, mas a dado momento ela deu-me a mão e levou-me para o quarto. Chegando lá pôs o cd do Waiting for the sun e play. Arrancar com um “Hello, I Love you” pareceu encaixar na perfeição no momento e antes da música chegar ao fim já estávamos nos beijos. “Love Street” continuou a propiciar o ambiente perfeito. “Not to Touch the Earth” acelerou as coisas e passámos à marmelada. E faço aqui uma paragem para recuperarem o fôlego e para explicar às crianças que nos leêm que, na minha altura, com 16 anos, era isso que se fazia, marmelada, não era ir para a cama e pronto. Era mesmo só marmelada, muito bem explicada aqui pelo Miguel Esteves Cardoso. Daqui para a frente não fui capaz de discernir entre músicas, mas a voz do Jim estava sempre ali, a envolver-nos e o fim do álbum chegou num instante (afinal de contas é o mais curto da banda) com o estrondoso “Five to One”. Nada como um clique no play para recomeçar e continuar. A minha memória não permite lembrar muito mais que isto, não sei dizer como ficou, como saí de lá, como fui para casa, apenas que nunca mais vi ou falei com a rapariga. E suponho que tenha sido melhor mesmo assim. É um caso clássico de a música fundir-se com a nossa vida a ser vivida e assim permanecer na nossa memória.