Outro dia alguém me dizia que uma das razões por que Tom Waits não vem a Portugal pode passar por os seus agentes olharem para o ordenado mínimo e médio do país e não fazerem particular questão em trazer um espetáculo que, em qualquer lado na Europa, não tem bilhetes à venda abaixo de 120, 150 euros. Talvez seja um motivo – é um concerto arriscado? Talvez. Mas Waits, é sabido, não é compositor de digressões regulares – e outros fatores contribuirão para este inacreditável afastamento do nosso país. Normalmente estas epifanias têm-se no Natal, mas eu tive-a depois de uma conversa há um par de dias: não chegará o final de 2017 sem eu ver um concerto de Tom Waits num qualquer local deste planeta (na Europa dava mais jeito). Talvez o tombar recente de demasiados ídolos potencie esta necessidade e este aperto, mas redescobrir canções como esta “Christmas Card From a Hooker in Minneapolis” é motivo mais que suficiente para querer transformar o desejo em realidade. É uma cantiga de 1978, de um álbum essencial de Waits – Blue Valentine – e a letra consiste numa carta de uma prostituta para um homem de nome Charlie. É uma desconcertante cantiga de amor, como desconcertante é o melhor dos amores, cantado ou não. Até um destes dias, Tom.
“Christmas Card from a Hooker in Minneapolis” – Tom Waits
