O psicadelismo vai invadir mais uma vez a Primavera de Lisboa, desta vez com os TOY. Nas vésperas do concerto de apresentação do recente Join The Dots, falámos com Dominic O’Dair, guitarrista da banda inglesa, sobre a recepção do novo disco, as diferenças em relação ao anterior e sobre Toy – o cantor português.
Altamont: Têm andado em digressão com Join The Dots. Qual tem sido a reacção do público às novas canções?
Dominic O’Dair: Tem corrido mesmo bem. As pessoas gostam de as ouvir ao vivo e as músicas tendem a ganhar uma nova vida quando as tocamos ao vivo. É fixe as pessoas ouvirem-nas assim. É mesmo bom poder misturar as músicas antigas com as novas. Sim, tem sido espectacular.
Sentem que o vosso público mudou desde o início? Ganharam bastantes fãs desde o começo, em 2011, passando do anonimato para cabeças de cartaz em festivais. Há mais gente e gente diferente a ir aos concertos?
Sim. Cada vez há mais gente a vir aos concertos. O nosso objectivo é fazer com que a música chegue ao maior número de pessoas possível e se desenvolva cada vez mais – e penso que isso está a acontecer.
Disseste que é bom misturar as canções velhas com as novas. Comparando os dois discos, o mais recente tem canções mais longas, apesar de ter demorado pouco mais de um ano a sair. Quais foram as principais diferenças no processo de gravação dos discos?
No segundo, tivemos mais tempo de estúdio. Tivemos a hipótese de explorar mais outro tipo de sons e tempo para experimentar outros pedais de efeitos, outros amplificadores e sintetizadores. Nesse sentido, isso trouxe-nos um lado mais sónico. Ainda assim, gravámos este álbum com o mesmo produtor, o Dan Carey, no mesmo estúdio, por isso há algumas coisas paralelas também.
A vossa música é influenciada pelo krautrock e o psicadelismo mas, muitas vezes, a música psicadélica que tem mais sucesso é aquela mais virada para a natureza, o universo e a beleza e alegria das coisas. A vossa, ao contrário, tem um lado mais emocional e escuro…
Bom, nós falamos muito sobre emoções e coisas que nos aconteceram. Não acho que a música psicadélica tenha necessariamente de ser alegre, também há muito psicadelismo estranho e obscuro. Eu gosto de explorar aquilo que se está a sentir quando se escreve uma música, quando as emoções estão a sair.
Há quem diga que vocês parecem mais uma banda emo do que uma banda psicadélica. Se os TOY fossem uma banda emo, qual seria o vosso nome?
Nunca tinha ouvido isso. Eu não gosto nada de música emo portanto não faço ideia (risos).
E de onde é que surgiu o nome da banda?
Gostámos dele porque é curto e directo. Pode ter significados muito ambíguos: pode ser algo divertido ou pode ser como jogar com a mente de alguém, o que lhe dá um aspecto irracional e psicológico.
O que sentem em relação ao movimento psicadélico que tem surgido nos últimos anos? Porque é que tem havido esse ressurgimento? Estaremos a viver os anos 60 de novo, com bandas e festivais psicadélicos a nascer a cada dia, o mundo em conflito e as drogas a voltarem a ser faladas?
Sempre houve música psicadélica, ainda que pudesse ser ou mais underground ou mais popular. Sempre houve bandas psicadélicas e nós não nos inserimos nesta recente tendência só por ser uma tendência. É uma coisa boa mas, para mim, sempre houve bandas psicadélicas a surgir, em várias formas, quer fossem mais electrónicas ou mais rock. É bom aparecerem na linha de frente mas para mim é mais uma tendência e é preciso ter cuidado com tendências. Nós estamos a fazer isto há quatro anos, antes de toda esta nova vaga começar a aparecer e assim vamos continuar, da maneira que nos apelar mais.
O que esperam do concerto em Lisboa, no sábado? Já estiveram em Portugal algumas vezes, o que gostaram mais?
Adoramos imenso tocar em Portugal. O público e as pessoas que conhecemos até agora são mesmo porreiras. Gostamos sempre de voltar, estamos ansiosos por sábado.
Da última vez que passaram por cá, tiveram um atraso de cerca de quarenta e cinco minutos por causa do aeroporto. O que aconteceu?
Chegámos a Lisboa e percebemos que a companhia aérea não tinha trazido o nosso material. Tivemos de esperar nos bastidores que as coisas nos fossem entregues. A Alejandra teve de tocar num teclado digital, que não é bem o que costumamos usar. Como ela normalmente toca com um teclado analógico, foi estranho…mas desenrascou-se.
Os fãs portugueses costumam gozar com o vosso nome, porque temos cá um cantor também chamado Toy que canta músicas de qualidade um bocadinho duvidosa (como “Sensual, és tão sensual”) e toda a gente brinca com isso.
(Risos) Isso é engraçado. Num concerto que demos, um rapaz português mostrou-nos no Spotify mas não sabíamos disso quando demos o nome à banda, tem graça.
Gostariam de fazer uma versão de uma canção dele? Era bom ter os TOY a cantar uma música do Toy.
Eu nunca o ouvi propriamente mas…quem sabe? (risos) TOY a tocar Toy.
Já há planos para o terceiro álbum?
Bom, queremos gastar mais tempo com o terceiro álbum. Os dois primeiros complementam-se, sinto que têm muito a ver um com o outro. Queremos muito trabalhar e desenvolver novos sons e explorar novos caminhos mas temos andado em digressão e não temos tido tempo para começar isso. Temos vontade de lançar um disco ao vivo ainda antes de um novo de estúdio, para misturar as canções dos dois primeiros álbuns e dar a ouvir as músicas de um novo ângulo que não havia nas gravações de estúdio. São estes os nossos planos para o terceiro disco.
Vai sair uma compilação da editora Speedy Wunderground que incluirá uma versão de uma canção iraniana, que vocês fizeram com Bat For Lashes. Como aconteceu isso?
O Dan Carey, com quem fizemos os dois primeiros álbuns, criou esta editora, a Speedy Wunderground, com a ideia de juntar bandas que o não fariam normalmente. Andávamos a ouvir uma música de uma compilação iraniana [Zendooni: Funk, psychedelia and pop from the Iranian pre-revolution generation] e achámos que seria interessante experimentar fazer uma versão dela. Aliás, eu até fiz um remix dela para a compilação.
Qual é a experiência de fazer um remix da sua própria música?
É mesmo divertido. Foi a primeira vez que o fiz, apesar de já o ter feito para muita gente. É bom porque, obviamente, conheces a música ao pormenor. Foi estranho porque eu não queria alterar demasiado alguns aspectos na música, mas desfrutei e diverti-me imenso.
Os TOY apresentam o novo disco no sábado, dia 5 de Abril, no Armazém F (antigo TMN ao Vivo) em Lisboa. Os bilhetes custam 20€ e ainda podem ser adquiridos nos locais habituais.