A minha relação com as Savages é, neste momento, ambígua. Por um lado excitação e consequente audição em repeat. Por outro enorme frustração pelo facto da ficha não ter descido antes do Primavera Sound onde, consta, deram um dos melhores concertos do certame (que bela palavra). O revivalismo do pós-punk voltou em força, após uns anos de menor intensidade e as Savages são mesmo os testa de ferro desta nova avalanche, já longe que vai o aparecimento dos Franz Ferdinand e Interpol.
Chegamos então a 2013, ano de lançamento do álbum de estreia da banda, este “Silence Yourself” para voltarmos ao início dos anos 80, quando os Joy Division, Siouxsie & The Banshees se lançavam nos escaparates. O ritmo aguerrido de sangue a correr nas veias, a voz de Jehnny Beth, o baixo omnipresente, todos os ingredientes estão lá. o arranque guitarra – bateria – baixo cada um à vez em “She Will”. E a voz a chegar depois, a compôr o ramalhete e a deixar-nos com uma grande malha. Aquela aceleração no final de “I Am Here” e a velocidade alucinante de “City’s Full”. Uma “Husbands” que nos conquista e se entranha, de ouvirmos até à exaustão (música que serviu de primeira amostra da banda ainda em 2012). E não é comum deixar o início para o fim, mas desta vez assim foi. Os primeiros segundos do álbum, com “Shut Up!” deixam-nos irrequietos já que quase não se ouve nada. Voltamos ao início, colocamos mais alto e aí sim, uma voz que fala e questiona alguém um diálogo que foi retirado de um filme de John Cassavetes. Depois (e desta vez trocam a ordem) baixo, depois a guitarra e a bateria. E a voz, a voz, intensa, ecoando em todos os cantos do nosso cérebro à medida que os ouvidos deixam entrar.
Depois para além do álbum, a banda tem atitude como fica demonstrado por um anúncio recorrente no início dos seus concertos. O qual subscrevo na sua íntegra. Larguem os telemóveis, esqueçam as fotos de merda que os mesmos tiram e aproveitem o concerto com os vossos olhos.