Tenho de confessar que os últimos dois álbuns de Queens of The Stone Age me passaram ao lado. Acho que mal os ouvi. Estava mal habituada depois dos portentos que são o Rated R e o Songs for the Deaf, mesmo tendo a noção que, por muito genial que Josh Homme e amigos sejam, esses álbuns são irrepetíveis.
Estava, por isso, a precisar de alguma coisa que me fizesse acreditar que os Queens não se tinham perdido no facilitismo e que iriam recuperar aquela intensidade (stoner rock?) que me faz fechar os olhos e de repente ter energia para conquistar o mundo.
Encontrei-a, a espaços, em Like Clockwork e apesar de não ser um álbum perfeito, é exactamente aquilo que eu – e o mundo – precisava para voltar a acreditar. Anthony Bourdain, amigo de Josh Homme, diz que este é “o melhor trabalho dos Queens até à data, um dos mais ambiciosos e um dos mais completos álbuns de rock de que há memória recente”. Para mim, esse álbum é o Songs for The Deaf.
Like Clockwork não chega às cinco estrelas, mas as quatro estão mais que garantidas. E só não leva as cinco estrelas porque há lá alguns temas que me causam mixed feelings, ou seja, não sei bem se gosto, mas continuo a ouvir. Aliás, o meu problema com o álbum é este: Não o consigo decifrar, mas também não o consigo largar.
É em “Keep Your Eyes Peeled”, “I Appear Missing” e no single “My God Is The Sun” que encontro os Queens e a sua essência intensa, densa, arrastada. Mas depois fico baralhada em “Kalopsia”, com o Trent Reznor – de quem sou fã quase incondicional –, com “Sat by The Ocean” ou até com “If I Had a Tail” que conta com Dave Grohl na bateria, Mark Lanegan, Nick Oliveri e Alex Turner dos Arctic Monkeys nas vozes de apoio.
Só pelos convidados/participantes dá para perceber que este não é um álbum qualquer. Dave Grohl senta-se na bateria de uma série delas, incluindo a “I Appear Missing”; Nick Oliveri regressa para dar a voz e não o baixo; Mark Lanegan empresta a voz e ainda a composição em “Fairweather Friends”; e depois temos ainda Trent Reznor e Alex Turner e os mais inesperados Jake Sheers, dos Scissor Sisters (que detesto), e Elton John. Sim, é mesmo isso. O Sir dá a voz e o piano em “Fairweather Friends”.
Este é, por isso, um disco de detalhes que obriga a muitas e muitas audições. Alem dos convidados, que imprimem sempre um cunho pessoal, os Queens decidiram usar e abusar dos moogs, da slide guitar, das guitarras de 12 cordas, pianos, sopros, sintetizadores, palmas, gritos e até pontapés.
Há qualquer coisa de muito elaborado neste disco que, lá está, não consigo bem decifrar. E é isso que o torna tão bom. São poucos os discos que nos provocam esta sensação de “isto é tão bom, de onde e que isto veio?” ou “isto é estranho, não sei se gosto, mas deixa lá ouvir de novo”. São poucos os discos que se mantém misteriosos ao longo do tempo.
E agora depois de escrever isto começo a pensar se o Bourdain não terá alguma razão quando diz que é “um dos mais completos álbuns de rock de que há memória recente”.