Ok, em primeiro lugar vamos já corrigir duas coisas. Começando pelo facto de não ser exactamente um álbum, mas um EP (Extended Play, uma espécie de single com mais carnucha lá pelo meio, para quem não se lembra destas coisas); em segundo lugar, o EP 1 tem quatro músicas, mas vou avaliar cinco, porque antes da sua edição saiu o single “Bagboy”.
“Bagboy” é o primeiro lançamento de música nova dos Pixies em mais de 20 anos. Antes disto temos de recuar até 1991, ano da edição de Trompe le Monde, o último e, como os restantes, belo disco da banda. Vou avaliar tudo junto porque, na verdade, há uma certa unidade entre os cinco temas, que saíram da mesma sessão.
Eu sou um fã hardcore desta banda, embora só os tivesse conhecido já no último estertor (separaram-se oficialmente em 1993, voltaram a reunir-se para tocar em 2004, mas sem nova música editada). Depois de esgotar o parco reportório dos Pixies (quatro discos fabulosos entre 1988 e 1991), dediquei-me a seguir Frank Black aka Black Francis aka Charles Thompson, compositor de 99% das músicas dos Pixies e um óptimo artista a solo.
Apanhei uns minutos de Pixies num Superbock de há uns anos, mas não deu para nada porque tragicamente cheguei atrasado ao concerto. Vi Frank Black com os seus Catholics na Aula Magna, nos anos 90, e foi um belo show. Seja como for, foi com enorme excitação que recebi a notícia de cinco músicas fresquinhas dos Pixies, quando já não achava que tal fosse possível. Ainda por cima poucas semanas depois de saber que Kim Deal (baixista e backing vocals) abandonara definitivamente a banda, já este ano. Tendo em atenção a elevadíssima fasquia de qualidade das composições de Black ao longo dos anos, o regresso dos seus talentos ao serviço dos Pixies só podia dar bom resultado.
Meus amigos, como estava tristemente enganado.
Não consigo encontrar nestas músicas um mínimo de centelha do que fez os Pixies grandiosos. Aquele contraste entre a melodia e a estranheza das letras, as mudanças de ritmo, a doçura cortada com agressividade, a guitarra quase surf enquanto a voz cantava sobre Buñuel ou extraterrestres. O que se ouve nestas cinco músicas são coisas que podiam ser de qualquer outra banda: e isso é um pecado, quando falamos na história dos Pixies.
“Bagboy” é uma cançoneta razoável e mais típica de Pixies, com as harmonias vocais de Kim Deal lá atrás (mas afinal não foi ela a gravar, mas sim um colaborador habitual de Black). Não é particularmente engenhosa, mas podia estar em qualquer um dos discos dos Pixies, sem envergonhar. Não seria single ou um momento de destaque em qualquer disco, mas enfim, não destoaria das faixas mais medianas.
Já no EP 1 propriamente dito, começamos por “Andro Queen”. Fraca, fraquita, meio baladeca sem chama alguma.
Segue-se uma boa música de seu nome “Another Toe in the Ocean”. Bem catita, soa aos primeiros discos de Black a solo (Teenager of the year, por exemplo). Uma música competente e agradável, mas sem soar particularmente a Pixies.
“Indie Cindy” é provavelmente a música que mais tenta recriar o típico quiet/loud dos Pixies, com um som abrasivo a contrastar com a guitarra acústica. Não é má e, em termos de classificação, está lá perto da “Bagboy”: não envergonha mas não se destacaria em qualquer dos álbuns.
O EP 1 fecha com “What goes boom”, com um som bastante agressivo mas igualmente desinspirado.
Os Pixies prometem mais EP deste género, o que quer dizer que teremos no horizonte, provavelmente, mais umas cinco ou dez músicas prestes a sair. Se o nível for o deste EP 1 será uma desilusão, e algo que não compara favoravelmente com o resto da irrepreensível carreira gravada desta fantástica banda.
Pior, Black diz que a sua carreira a solo (que eu adoro) acabou, e que agora tudo vai para os Pixies. Apetece dizer que, se era para fazer isto, mais valia estar quieto e continuar a fazer excelentes discos a solo. Não consigo identificar totalmente qual é o problema. Se é Black que, destreinado, está a forçar a sua mão para tentar fazer as suas músicas soar a Pixies, mas já não sabe como. Se foi a saída de Kim Deal que perturbou, de alguma forma, a fórmula, embora ela compusesse muito pouco. Não sei. Sei é que música nova desta banda foi por mim aguardada durante décadas, e isto soa a fracasso.
Os rezingões da Pitchfork deram-lhe uns miseráveis 1 em 10 de classificação. Eu não iria tão longe. Mas, com muita pena minha, dificilmente lhe daria mais que um 3 ou 4, e já sendo amigo.