Antes de entrar a fundo neste álbum, um parêntesis para partilha de sentimentos – custou-me bastante não ter ido ao Porto ver os Deerhunter. Eram claramente a banda que mais queria ver do line-up do Primavera, logo seguidos pelos Titus Andronicus, para mim o resto serviria apenas para compôr o ramalhete (crucifiquem-me se quiserem os fãs do Blur, que agora dá-se um pontapé numa pedra e saem lá de baixo resmas deles…). Infelizmente a organização não ouviu as minhas preces e colocou estas duas bandas o mais afastado possível (Deerhunter 5ª à 1 da manhã? Titus sábado à 1h30? mesmo os Blur cabeças de cartaz às 1h45??? rídiculo…) o que levou à minha desistência de romagem ao Porto. Conformei-me assim ouvindo este álbum em repeat e aguardando por um saltinho deles a Lisboa.
Ora então Monomania. Sexto álbum da pandilha de Bradford Cox mas principalmente o álbum após Halcyon Digest que os colocou num ponto tão próximo do Mourinho que a dúvida era mesmo para onde ir a seguir. Ora o arranque não podia ser mais incerto. “Neon Junkyard” começa calminha, guitarra e vai crescendo em fundo, ganhando corpo com riffs crus para de repente e sem pré-aviso entrarmos em “Leather Jacket II”, um chinfrim desregrado que nos traz de volta os primórdios lo-fi da banda. Um portento se é que me entendem. Pensamos, ok é um back to basics e será fabuloso. Para apenas passados 3 minutos mais uma reviravolta com “The Missing”, balada indie pop pura, com voz do comparsa Lockett Pundt, música que encaixaria na perfeição no alinhamento de Halcyon Digest. Segue-se “Pensacola” onde cheira intensamente a rock sulista (não por acaso Bo Diddley é constantemente referido como sendo uma forte influência). “Dream Captain” faz-nos lembrar outra influência perene nos Deerhunter, os também de Athens, Georgia R.E.M. especificamente a sua versão Monster. O trio “Blue Agent”, “T.H.M.”, “Sleepwalking” é a banda em piloto automático, sempre um prazer para os ouvidos claro. “Back to the Middle” é aquela música que conquista á primeira, irritante porque parece tão simples de fazer mas o que é facto é que ninguém as faz. “Monomania” é intensa, esticando a corda ao limite, crescendo para a apoteose. Entramos pois na recta final, “Nitebike” voz e guitarra acústica, letras pessoais de Bradford deambulando na sua dor (“You can feel my pain?/You want to relate/You want to stay” ) e “Punk (La Vie Antérieure)”.
Estamos pois perante um álbum irredutível, quais gauleses com a sua poção mágica, os Deerhunter continuam o seu caminho enquanto o império romano controla o resto do mundo. Eles estão marimbando-se para isso, naturalmente.