O inglês Mike Paradinas é um weirdo. Desde sempre apaixonado pelas electrónicas, passou boa parte dos anos 80 a seguir as passadas das bandas new wave que reinavam então em Inglaterra, passando depois aos teclados enquanto músico. Mas a sua curiosidade cedo deixou para trás a pop e levou-o a embrenhar-se cada vez mais nas electrónicas, cuja multiplicidade de possibilidades e de caminhos por desbravar o chamaram irresistivelmente. As suas gravações exploratórias e experimentais chamaram, nos anos 90, a atenção de Aphex Twin, e o tipo nunca mais parou. Fundou e dirige a editora alternativa Planet Mu (que comemora agora 20 anos de existência) e vem assinando trabalhos com uma dezena de nomes diferentes. A máscara original, e a que agora regressa, é a do projecto ?-Ziq (pronuncia-se “music”).
A raiz de Paradinas é a música ambiental electrónica, algo que tanto vai do dubstep ao kraut, com muitas coisas pelo meio.
Este XTLP acaba por ser uma boa porta de entrada para o mundo exploratório de ?-Ziq. Isto porque o ambiente é mais positivo e mais relaxado que noutros trabalhos, nos quais o conceptualismo das composições é levado mais à frente, deixando o ouvinte entre o entusiasmado e o perdido. Este disco é, na prática, a junção de vários EPs que haviam saído apenas em vinil, com apenas uma faixa nova.
O nosso grande destaque vai para o tema de abertura, “XT”, com um som deliciosamente retro que nos transporta nas notas de sintetizador para os anos 70, com ecos de Kratfwerk e o mundo de Laranja Mecânica. Uma pérola ambiental de seis minutos que consegue até ganhar um balanço funk do meio para a frente.
O ritmo aumenta com as seguintes “Ritm” e “Taxi sadness”, que não trazem grande revolução ao mundo, com a redenção a surgir logo a seguir com “Smeester”, um tema mais lento e mais pesado que podia ser banda-sonora de Dune. “Pulsar” lembra os Ladytron se tivessem ficado perdidos dentro do programa do Tron, o que é bom. “Monj2” é o momento mais avant-garde do disco, interessante conceptualmente mas pouco mais. Segue “New Bimple”, com uma simples mas linda melodia de piano a conduzir toda a música, que é óptima. “Rimmy” e “PRG” devolvem-nos ao ambiental dominado por sintetizadores planantes, deixando de parte o ritmo frenético de outros temas.
É, aliás, no registo lento e contemplativo que este XTLP melhor funciona, quando nos atira para aquele mundo retro-futurista de há tanto tempo atrás.
Temos ainda “Forger”, um drum and bass quase frenético que acrescenta pouco e se perde na aceleração claustrofóbica do ritmo e dos efeitos. A calma, weird, regressa com “Tambor”, que começa por lembrar “Burial” e vai evoluindo, lentamente, num passo exploratório e assustador, no bom sentido.
O disco termina muito bem com “Blem” e os seus sintetizadores básicos e quase naifs, num registo que roça o cósmico.
O que temos aqui, pelo menos para o autor destas linhas, é a descoberta de um criador, Paradinas, altamente talentoso e idiossincrático. Música electrónica feita no quarto, mais para pensar do que para dançar, que é mais forte quando nos leva como num sonho para territórios mais ambientais como quando gigantes como os Tangerine Dream pisavam a terra.