A família Nielson desdobrou-se num turbilhão de rock psicadélico, jazz e pop deixando a Aula Magna rendida, num concerto que podia ter durado para sempre.
Na passada terça-feira, ainda antes do concerto dos Unknown Mortal Orchestra, já se sentia a eletricidade no ar ao pé da Aula Magna. A abrir para a banda neozelandesa, Iguana Garcia agredia-nos com um aríete de baterias e linhas de baixo que denunciam uma certa influência eletrónica na sua música. Com melodias coloridas tanto no sintetizador como na guitarra, o músico aqueceu a sala lisboeta, deixando-nos al dente para o que viria a seguir.
Assim que Ruban Nielson, acompanhado pelo irmão Kody, o pai Chris e Jake Portrait subiram ao palco e casualmente começaram a tocar um improviso atmosférico, sabíamos que este ia ser um concerto diferente daquele a que a banda nos tinha habituado em concertos anteriores. O lançamento recente de IC-01 Hanoi, há-de ter influenciado esta incursão por território mais experimental. Essa introdução rapidamente dá lugar a “From the Sun” do segundo disco, II. Findos os versos, Ruban inicia um solo serpenteante e um passeio pela Aula Magna (até bebeu um copo a meio do solo) acompanhado por uma lâmpada incandescente.
Voltando ao palco, a banda agora reunida transita quase imperceptivelmente para “Ffunny Ffrends” que abriu o disco de estreia homónimo da banda no já distante ano de 2011. Este sentimento de retrospectiva continuou com a pop agridoce de “Swim and Sleep (Like a Shark)”, também do segundo álbum. A guitarra foi brevemente abandonada para dar lugar a um sitar elétrico o que só podia significar uma coisa: “Ministry of Alienation”. O toque mágico de Ruban aglutina as mais díspares sonoridades e conceitos e apesar desta música, assim como todo o Sex & Food, terem uma sonoridade um bocado diferente, em palco tudo converge. A presença de Chris Nielson fez-se notar com um rapidíssimo sobressalto de saxofone que acabou a música.
De volta à guitarra, fomos surpreendidos pela lânguida “So Good at Being in Trouble” e estranhamos ouvi-la fora de um contexto de festival. Ainda assim, a voz frágil de Nielson intoxica-nos e deixa-nos num estado de transe, interrompido por uma transição para “Hanoi 5” do último disco. Chris Nielson apodera-se do fliscorne a atira-se a um dilacerante solo seguido de um majestoso solo de saxofone. A transição dos Unknown Mortal Orchestra para um grupo de jazz de fusão, está agora completa.
Quase sem nos dar tempo para respirar a banda faz a transição para a metálica “American Guilt” uma música que beneficia da liberdade e soltura que um concerto confere. Ninguém se conseguiu manter sentado ao ouvir os arpejos em espiral e os riffs graníticos que tornam a música tão distinta do resto da discografia de uma banda que está sempre com os olhos semicerrados.
Durante “Not in Love We’re Just High”, Ruban saiu do palco mais uma vez sentando-se numa cadeira brevemente antes de se pôr de pé em cima dela, passear por cima de umas quantas pessoas e pedir ao público para acompanhar o ritmo da canção, uma das mais orelhudas do grupo, tornada ainda mais orelhuda com um arranjo mais despido. Somos finalmente brindados com o caleidoscópio psicadélico de “Multi-love” mas a festa não acabou aí: para o encore, a banda guardou a muito amada “Hunnybee” e o hino “Can’t Keep Checking My Phone” e assim, sem mais nem menos, acabou tudo. Como a própria eletricidade, o concerto deu-se num abrir e fechar de olhos e ficamos a ansiar por mais. Com concertos deste calibre, é certo que podemos contar com os Unknown Mortal Orchestra a tocar em terras lusas muito brevemente.
Fotografia: Inês Silva