Com Kevin Parker como produtor, Os Pond voltam a um recanto onde se lhes permite serem extravagantes sem concessões.
A mania de resistir à mudança está mesmo fora de moda. Nada vence a tremenda vontade de mudar. Há cada vez menos complexos. Dos quatro cantos do mundo, a música não para, sem regras nem contraceptivos. Like. Like. Like e vende. E a seguir vêm os concertos, os cachets, a droga e o reconhecimento. Um ciclo endovenoso. Não se explica. Consome-se até à sua rápida exaustão. Os Pond já levam algumas vitórias. Trajam a rigor e seguem a sua idiossincrasia lunática. The Weather prolonga um caminho há muito anunciado. Uma viagem à volta do tempo, sem pausas relativas ou desperdícios alegóricos. É verdade que Kevin Parker é o produtor. Ok. E então? Sim são australianos, de Perth, mais concretamente. É óbvio que pertencem a uma “corrente”. São extravagantes, como qualquer banda de rock psicadélico. Estão envolvidos em vários projectos. Pois pudera, com mentes prolíficas como estas não chega um bazar. A coisa tem que extravasar por outros lugares. São sete, sete álbuns lançados. It takes time to be a ponder.
Este The Weather vem dócil, com Allbrook acompanhado pelos outros três evangelista, crentes nas suas versões. Se 10cc ou Korgis são um raio de luz nas nossas memórias, isso muito se deve a bandas como esta, que persistem em reviver o infinito da música; reedições sobre reedições de anteriores edições.
No princípio, “30000 Megatons”. Um rebentamento em camadas de sintetizador, confortavelmente agraciadas pelo autotune desgarrado de Allbrook (deixando muito provavelmente perplexos os inflexíveis da guitarra eléctrica). Diga-se em abono da verdade, que a sequência musical deste álbum está bastante sólida e coerente. Seguem-se os temas chave “Sweep Me Off My Feet” e “Paint Me Silver”. Dois hits que muito hão de rodar por essas rádios ditas alternativas. “Colder Than Ice” suspende o bloco Top Gun e daí somos levados para o universo neo-psicadélico. Subjaz um sentimento de limite sustentável. Nicholas Allbrook descreve este álbum como um álbum conceptual, não apenas sobre Perth, mas sobre as estranhas coisas contraditórias que caracterizam muitas das cidades coloniais ao redor do mundo. Imobiliário, crescimento, dinheiro e privilégio branco. Os nossos lugares que antes foram outros lugares, de outros, que perderam o lugar.
The Weather termina nele mesmo. Em “The Weather”. Uma infausta concomitância. “The floor, is covered in champagne The leather and the blood, and all the sudden rain And man, you should’ve seen those cops’ batons The worst case scenario, survival game”. É em pseudo-candura que os Pond desaparecem, num horizonte incerto. Não sabemos quando irão voltar, se irão voltar e como é que o farão. Estas bandas têm este inconveniente – serem imprevisíveis a longo prazo. Tal como o tempo.