O que têm em comum Hitchcock, uma ex-colónia portuguesa e uma caveira com lâmpadas no lugar de olhos? A relação pode ser difícil de estabelecer, mas para os Old Yellow Jack tudo e nada têm a ver com nada e tudo. O seu universo musical sai para lá dos limites constantemente expansivos do cosmos que conhecemos e toma forma nas guitarras elegantes que misturam o psicadelismo lusitano dos Capitão Fausto com a fofice melódica de Mac DeMarco.
Guilherme Almeida, Filipe Collaço, Miguel Costa e Henrique Fonseca são os quatro rapazes que fizeram brotar este caldeirão mágico de bonitos momentos de pop e rock psicadélico. O seu primeiro EP é algo meritório para primeiro trabalho e é exemplo de bom gosto e de boas influências. A faixa de abertura que serve também de single, tem o nome de um filme – de dois, na verdade, com o remake – do génio Alfred Hitchcock. «The Man Who Knew Too Much» tem um começo excelente, com um baixo a entrar a deslizar por cima de um pequeno e congelado lago de teclados que rapidamente se descongela para dar lugar às guitarras brilhantes e à letra curiosa e críptica. A explosão dá-se no terço final da canção, com as guitarras e uma voz através de um megafone a tomarem a linha da frente e a darem a propulsão necessária para o foguetão descolar.
Em segundo lugar, «Murky Water» aparece-nos com as tais guitarras fofinhas à Mac DeMarco, repletas de pedais de um chorus meloso e feliz. Multifacetada, a segunda faixa do EP passa tanto pela bateria em marcha dos Sétima Legião até ancorar em bom porto, com delays ambiciosos e progressões de acordes à Tame Impala. «Luanda», num registo mais nostálgico, mantém as influências bem presentes, com teclados agudos bem reverberados.
«I Found Oil» acelera o passo e é a canção mais dançável do disco. É uma correria alegre de quem parece mesmo que descobriu um poço de petróleo, que acaba num oásis sonoro de calma instrumental, seguido de vinte segundos de pura loucura juvenil. Chegamos ao fim com «Two Lightbulbs In a Skull». A quinta e última canção tem especial destaque na viagem dos teclados por um qualquer planeta alienígena do Star Trek, repleto de maravilhas e revelações inacreditáveis.
Os Old Yellow Jack são mais uma prova de que a música em Portugal está melhor que nunca. O simpático EP de apresentação pode ser escutado em baixo, enquanto se esperam pelos concertos de apresentação, que com certeza não vão desiludir.