O meu apreço pela Márcia tem meia dúzia de meses de existência. Começou neste último Super Bock Super Rock e surgiu depois de ter assistido ao concerto de apresentação deste Quarto Crescente. Nesse mesmo dia, pouco tempo depois de a ouvir, já tinha quase toda a sua discografia autografada, muito graças ao nosso Duarte Pinto Coelho, conhecedor e grande apreciador da obra da cantora há já algum tempo. Com os discos debaixo do braço e algumas fotos tiradas para a posteridade, ainda tive a sorte de assistir, em sua companhia, ao show que o Rodrigo Amarante ia dar meia hora depois desse nosso encontro. Que belo final de tarde!
Vamos ao disco, então. Quarto Crescente é claramente um passo em frente em relação ao material publicado pela compositora / cantora desde 2009. Devagar, mas sempre de forma segura, Márcia foi ganhando o seu espaço cá dentro, e agora, sobretudo com o disco deste ano, já lá fora, no Brasil, há quem se renda à sua maneira límpida de cantar e de compor. Escolhido Dadi Carvalho como produtor do disco (nome grande da MPB, ligado a bandas importantes como Novos Baianos e A Cor do Som, mas também muitas vezes próximo de Caetano Veloso e Marisa Monte, por exemplo), e também por via dessa esperta opção, o álbum ganhou uma leveza e uma claridade espantosas, o que se revela bem nas canções de maior grandeza poética e musical deste disco. Para estar de acordo com o que digo (estou absolutamente convicto disso) basta que se ouça “A Insatisfação”, “A Urgência”, “Entre Nós” ou “Linha de Ferro”, delicioso dueto com o brasileiro Criolo, que com Márica havia cantado no concerto a que me referi no início destas linhas. A canção “Linha de Ferro”, encaixada mais ou menos a meio de Quarto Crescente, parece-me marcar todo o disco de forma exemplar, sobretudo por ser nela que melhor se nota o que este trabalho traz de novo para a música de Márcia, embora também nela resida o que de mais relevante encontramos nos seus álbuns anteriores. Ou seja: em Quarto Crescente há mais mundo, há maior segurança (talvez menor insegurança seja ainda melhor expressão para o que penso), há maior apuro e detalhe. A melancolia, a solidão, o charme das suas letras e composições estão aqui depuradíssimas, mais até do que em qualquer dos discos anteriores. No entanto, não se julgue que Quarto Crescente se resume a essas quatro belas canções. Antes pelo contrário, uma vez que um dos trunfos do disco reside no coeso lote das onze canções escolhidas para lhe dar corpo, cada uma delas com qualidade suficiente para ser eleita, eventualmente, como a preferida pelos já muitos fãs de Márcia. No meu caso, como se percebeu, “Linha de Ferro” é a escolhida.
A questão que resta é o que fará Márcia a seguir? Isso não poderemos, para já, saber, mas a avaliar pela sua ainda curta mas prazerosa carreira, não seria de admirar que depois de um Quarto Crescente como este, viesse uma lua cheia de muitas outras fantásticas canções. Aguardemos, pois.