Depois de um longo período dedicado ao pop, Talk Talk presenteiam-nos com Laughing Stock, um álbum recheado de experimentalismo, com mestria da fusão de estilos como jazz, post-rock e música clássica. “After the Flood” surge a meio do trabalho, logo a seguir a “Ascension Day”, passando do momento mais ensurdecedor para o mais tácito. À semelhança de quase todas as outras faixas no álbum (e do que Floating Points conseguiu fazer em Elaenia), Talk Talk pegam no detalhe mais simples e deixam-no evoluir até o caos, de onde voltam a baixar o tom. Começa com um piano quase demasiado silencioso para ser ouvido, a que se junta uma linha de baixo muito simples, a seguir uma guitarra que vai arranhando um pouco mais de cada vez que oscila, depois uma percussão jazzy incansável, passando por um órgão groovy, e finalmente a voz embaladora de Mark Hollis. Quase sem darmos por isso, a faixa sobe e desce, fica quase descontrolada e volta ao quase silêncio; e, no entanto, ficamos despertos com a guitarra dissonante por cima da percussão inflexível. É inútil dar sentido às letras de Hollis; quase me atrevo a dizer que não havia qualquer intenção de que alguém as percebesse. São indecifráveis mesmo quando as conseguimos distinguir umas das outras, o que contribui para o caráter misterioso e hermético de “After the Flood”. É uma canção de e para quem sabe esperar. No final, a alma fica cheia, e a música — e Laughing Stock — cada vez mais grandiosa.